Resenha de CD
Título: MPB no Samba-enredo
Artista: Vários
Gravadora: EMI
Cotação: * * * * *
Mesmo distribuída tardiamente às lojas pela EMI, já fora da época carnavalesca, a coletânea
MPB no Samba-Enredo (
capa à esquerda) presta contribuição fundamental ao catálogo do gênero. Como o título já sugere, a compilação reúne 14 gravações de sambas-enredos antológicos por cantores como Roberto Ribeiro, Clara Nunes, Elza Soares e Paulinho da Viola. São nomes mais associados ao samba do que à chamada "MPB", embora qualquer rótulo preconceituoso acabe ruindo face à beleza das pérolas.
Basta uma audição do CD para atestar a supremacia dos sambas-enredos antigos em relação aos produzidos nos últimos anos. A diferença está, sobretudo, nas melodias - mais ricas e nada subservientes ao ritmo acelerado que dita as regras do Carnaval atual. A maioria foi composta nos anos 70 - fase de ouro do gênero. Exemplos aleatórios são
Lapa em Três Tempos (samba-enredo da Portela em 1971, regravado por Paulinho da Viola no mesmo ano) e
Nordeste: seu Povo, seu Canto e a sua Glória (samba-enredo do Império Serrano no mesmo ano de 1971, representado na coletânea por gravação de 1983, a cargo do saudoso Roberto Ribeiro). São aleatórios porque os 14 sambas do disco estão irmanados pela beleza de sua música e letra.
Além de exaltar a qualidade melódica dos sambas antigos,
MPB no Samba-Enredo traz para o formato digital quatro gravações até então inéditas em CD. Três -
Festa do Círio de Nazaré (Unidos de São Carlos, 1975),
O Mundo Fantástico do Uirapuru (Mocidade Independente, 1975) e
O Mundo Melhor de Pixinguinha (Portela, 1973) - são registros feitos por Elza Soares nos anos 70. É curioso notar que, mesmo combatido na época por ser de autores estranhos no ninho do samba (Jair Amorim e Evaldo Gouveia, dupla mais associada aos sambas-canções sentimentais do que ao Carnaval),
O Mundo Melhor de Pixinguinha pode ser considerado obra-prima perto da grande maioria dos sambas atuais.
A quarta gravação inédita em CD,
Imagens Poéticas de Jorge Lima (Mangueira, 1975), é interpretada por ninguém menos do que Ângela Maria - ainda em forma vocal, em registro bissexto de samba-enredo. Também aparentemente deslocada, a dupla Miltinho e Dóris Monteiro suaviza
Lendas do Abaeté (Mangueira, 1973). Já Dona Ivone Lara é a intérprete do samba menos conhecido da seleção,
São Paulo: Chapadão da Glória (Império Serrano, 1967), parceria de Silas de Oliveira com Joacyr Sant'anna.
O
senão da coletânea fica por conta da apresentação da capa. Alguns intérpretes (Clara Nunes, Elza Soares, Paulinho da Viola, Ivone Lara, Beth Carvalho) são citados nominalmente. Os demais são apresentados como "outros" - no mínimo, uma injustiça com Roberto Ribeiro, intérprete de
Alô! Alô! Taí, Carmen Miranda (Império Serrano, 1972), em registro que inclui passagens
à capella, num alternância de andamentos que confirma o poderio vocal do saudoso cantor. Que merecia uma citação nominal...