Resenha de CDTítulo: CarrosselArtista: SkankGravadora: Sony & BMGCotação: * * *Com o lançamento do CD
Carrossel, o Skank completa 15 anos de vida. Para bandas de rock, essa idade pode representar cansaço e repetição. Mas o quarteto mineiro
(à direita, em foto de Weber Pádua) ainda soa jovial como na sua formação, em 1991, em Belo Horizonte. Em 15 inéditas, baladas em sua maioria,
Carrossel confirma o acerto do grupo ao mudar, antes do desgaste, a receita de seu som - hoje já bem distante da festividade rítmica dos primeiros discos, voltados para o reggae.
Em giro por sonoridades de folk e do rock dos anos 60 e 70, com referências que vão de Beatles ao lendário Clube da Esquina,
Carrossel concilia requinte e popularidade. Se
Uma Canção É pra Isso representa o pop perfeito, o refrão da
Balada para João e Joana e a pegada pegajosa de
Mil Acasos sinalizam que o CD tem mais munição radiofônica - ainda que sem a forma redonda de
Uma Canção É pra Isso, pop em estado puro que já celebra na letra ensolarada e feliz a vontade do Skank de fazer música para as massas - fato que muitas bandas (re)negam porque o conceito de popularidade, no Brasil, está erroneamente associado a algo primário e pueril.
Carrossel roda longe da banalidade imperante na música populista. A evolução harmônica do som do grupo é sedimentada com o uso de instrumentos como banjo e trompa. Há arranjos de cordas e sopros - a cargo de Artur Andrés - que apenas refinam a camada pop das músicas sem dar ao disco um tom camerístico pouco condizente com o espírito jovial das músicas.
Carrossel gira cheio de sutilezas. Que pode ser a alteração do andamento de
Notícia, parceria de Samuel Rosa com Humberto Effe cujo arranjo conjuga elementos de rock, folk e country. Ou o tom garageiro de
Até o Amor Virar Poeira. Ou ainda os versos de Arnaldo Antunes para
Trancoso, balada litorânea com letra que mais parece poesia.
Espécie de quinto Skank, Chico Amaral é o letrista de oito das 15 inéditas, com destaque para
O Som da sua Voz. Mas o melodista Samuel Rosa soube abrir seu leque de parceiros. Líder do extinto grupo mineiro Virna Lisi, César Maurício colabora na balada psicodélica
Lugar, em
Um Homem Solitário e em
Seus Passos, canção que segue o plácido curso melódico de
Dois Rios, o hit do Skank em 2003. O supra-citado Humberto Effe assina ainda a letra de
Cara Nua. E Nando Reis volta a dar o ar da graça em disco do Skank com
Eu e a Felicidade, pop rock urdido com violões que tem mais a cara de Nando do que de Samuel. E, na ficha técnica, há ainda a boa surpresa da presença do baixista Lelo Zaneti, co-autor de
Garrafas, melodia de estranha beleza e sensualidade.
No todo, apesar de sutilezas próprias,
Carrossel segue a trilha de seus antecessores
Maquinarama (2000) e
Cosmotron (2003) ao unir psicodelia, folk, rock dos anos 60, Beatles, BritPop e Clube da Esquina em coquetel de sabor pop. Uma banda, afinal, é para isso: ser pop, sem medo de ser popular, sem medo de ser feliz.