Resenha de CD / DVDTítulo: Para Inglês Ver... e OuvirArtista: Zizi PossiGravadora: TBM RecordsCotação do CD: * * * * Cotação do DVD: * * * * * Há quem ouça discos de Zizi Possi buscando a cantora especialmemte iluminada dos CDs
Sobre Todas as Coisas (1990) e
Valsa Brasileira (1993). Estes dois antológicos trabalhos marcam o estabelecimento de um padrão estético na discografia da artista que, a rigor, começara a ser esboçado em
Estrebucha Baby (1989) e foi desenvolvido em trabalhos seguintes como
Mais Simples (1996) e o injustiçado
Bossa, disco de 2001 nunca aplaudido na medida de sua sofisticação. É este refinamento estético minimalista que Zizi reedita neste primoroso
Para Inglês Ver...e Ouvir, ora lançado nos formatos de CD (o 18º de carreira fonográfica iniciada em 1978) e DVD (o primeiro da artista).
Sem lançar disco desde 2001, Zizi volta cantando somente em inglês na sua primeira gravação ao vivo. No caso da cantora, vale logo dizer que seu registro no palco é normalmente idêntico ao do estúdio tamanho seu domínio e virtuosismo vocal. "O show de Zizi escorre como mel em cima da gente. Ela faz o que quer da voz", resume nos extras o ator Paulo Autran, um dos convidados da gravação realizada em 6 de agosto no Teatro Shopping Frei Caneca, em São Paulo (SP).
Por ser a reprodução de show idealizado no ano passado para apresentação na casa paulista Bourbon Street, o projeto ao vivo de Zizi Possi foge do caráter retrospectivo de discos do gênero. Todos os 18 números do DVD (13 no CD) são inéditos na voz da cantora, que já interpretava repertório poliglota em seu primeiro show profissiomal,
Taí, apresentado em 1976 em Salvador (BA) - como lembra nos extras do DVD seu irmão José Possi Neto, diretor de
Para Inglês Ver...e Ouvir.
Além de trazer o registro quase integral do recital (as músicas
Yesterday e
Close to You foram suprimidas da seleção final), o DVD supera o CD por proporcionar ao espectador a observação do gestual da cantora. Como também observa Possi Neto com muita propriedade, a máscara facial de Zizi no palco é elemento fundamental de seu trabalho. É através dela - acrescenta o colunista - que ficam mais evidentes as intenções e as nuances de cada número.
Zizi é detalhista. E é na observação do detalhe que consiste muito do puro prazer de vê-la e ouvi-la entoar classudo repertório de standards como
The Man I Love,
Moon River,
Ruby,
Fever e
Love for Sale. Seja o tom etéreo do refrão de
Fly me to the Moon, introduzido pela atmosfera aérea criada pelo arranjo do maestro Jether. Seja o clima de cabaré que permeia
Dream a Little Dream of me, número de apropriadas caras e bocas. Ou ainda a divisão inusitada de
Do You Wanna Dance? - sucesso de Johnny Rivers.
A perfeita emissão vocal de Zizi enobrece baladas como
Love of my Life e
I Don't Wanna Talk about It - lançadas por Queen e Rod Stewart, respectivamente - e até um reggae como o politizado
Redemption Song, que reaparece incrivelmente fora do universo jamaicano. Como verdadeira diva da canção, Zizi tem a capacidade de uniformizar autores díspares como Bob Marley e Cole Porter.
Há quem acuse nos últimos trabalhos da cantora um tom excessivamente
cool.
Para Inglês Ver... e Ouvir segue essa linha no início e vai ganhando peso e calor à medida que avança. A ponto de ferver no soul
Unchain my Heart e na releitura roqueira de
Come Together. Mas a parte
cool nunca soa inferior ao bloco
hot. Em qualquer clima, ouvir Zizi Possi cantar em inglês é puro prazer. Um deleite para quem entende seu apuro estético.