Demorou, mas a gravadora Universal Music está, enfim, reeditando esta semana os 22 discos de Maria Bethânia que pertencem ao seu acervo. Os títulos cobrem o período 1967 - 1995. Todos já haviam sido lançados em CD, entre o fim dos anos 80 e o início dos 90, mas a maioria já estava fora de catálogo - caso de
Drama (
capa à esquerda). Coordenada pelo pesquisador Rodrigo Faour, a coleção avança em relação às edições anteriores porque os álbuns foram remasterizados - a melhora no som é nítida - e porque todos os CDs reproduzem o material dos encartes dos LPs originais. Além disso, há um texto de Faour sobre cada título. O unico
senão é a ausência de faixas-bônus com fonogramas de compactos da época e sobras dos registros de shows que, por limitação de espaço, não entraram nos LPs originais.
A coleção
Viva Bethânia! foi idealizada em homenagem aos 60 anos da cantora, completados em 18 de junho. Antes da Universal, a EMI reeditou quatro títulos da intérprete -
Recital na Boite Barroco (1968),
Maria Bethânia (1969),
Maria Bethânia ao Vivo (1970) e
Âmbar (1996) - em formato
digipack. Só que os títulos da EMI já estavam em catálogo com som remasterizado. As jóias mais raras pertenciam mesmo ao baú da Universal Music - sem falar, claro, no EP
Maria Bethânia Canta Noel Rosa, que a Sony & BMG está reeditando (em compilação com outras faixas de compactos) em série de sete títulos que inclui ainda os discos
Maria Bethânia (1965),
Dezembros (1986),
Maria (1988),
A Força que Nunca Seca (1999),
Diamante Verdadeiro (1999) e
Maricotinha (2001).
Por ora, vamos à descrição - disco por disco - do acervo fundamental da Universal Music:
Edu e Bethânia (1967) - Álbum feito com Edu Lobo para a gravadora Elenco. Como este disco já havia sido relançado e remasterizado recentemente, a gravadora apenas acrescentou uma luva à edição anterior para poder incluir o texto do pesquisador Rodrigo Faour.
A Tua Presença.... (1971) - Primeiro disco de estúdio de Bethânia na antiga Philips. Inclui rara incursão da cantora pelo universo de Jorge Ben Jor (
Mano Caetano, com participação do autor), sua primeira gravação de
Rosa dos Ventos e releitura de
Jesus Cristo, lançada por Roberto Carlos no ano anterior.
Rosa dos Ventos (1971) - Foi o disco ao vivo que consolidou um formato de show que Bethânia rebobinaria ao longo da carreira, com música e poesia. Atenção: por um erro gráfico, a primeira tiragem da atual reedição vem com o encarte da edição anterior de 1993. Já notificada do problema, a gravadora prometeu corrigir o erro.
Drama (1972) - Álbum de estúdio em que Bethânia lançou
Estácio Holly, Estácio (de Luiz Melodia) e
Esse Cara, de Caetano Veloso. A produção foi do próprio Caetano, então recém-chegado do exílio em Londres.
Drama 3º Ato (1973) - Outro disco ao vivo que marcou época. Registra o show
Drama - Luz da Noite, apresentado no Teatro da Praia (RJ) com direção de Isabel Câmara e Antônio Bivar. Bethânia canta
Baioque, da trilha do filme
Quando o Carnaval Chegar (1972), infelizmente esquecida na coleção.
A Cena Muda (1974) - Mais um ao vivo, desta vez sem textos no roteiro. O discurso estava nas letras de compositores como Gonzaguinha, gravado por Bethânia pela primeira vez, e em dose tripla (
Galope,
Gás Néon e
Desesperadamente). A reedição reproduz o encarte luxuoso do LP original.
Chico Buarque & Maria Bethânia ao Vivo (1975) - Outro ao vivo que registra o marcante encontro da cantora com o compositor, que fez
Sem Açúcar para Bethânia cantar no show. Já estava em catálogo.
Pássaro Proibido (1976) - Disco de estúdio que marcou o início da popularização da cantora, por conta da gravação de
Olhos nos Olhos, de Chico Buarque. Outro destaque do repertório é
Amor, Amor - parceria de Sueli Costa com o poeta Cacaso.
Pássaro da Manhã (1977) - Disco em que Bethânia intercalava músicas e textos, trazendo pela primeira vez para o estúdio a marca de seus shows. O repertório destacou
Terezinha e a regravação de
Um Jeito Estúpido de te Amar, parceria de Isolda e Milton Carlos, lançada por Roberto Carlos no ano anterior.
Álibi (1978) - Disco de estúdio que se tornou um clássico na discografia da cantora, vendendo 800 mil cópias (e não um milhão, como alardeado através dos anos). O repertório enfileira músicas até hoje recorrentes no repertório da artista:
Sonho Meu,
Negue,
Explode Coração,
Diamante Verdadeiro,
Cálice,
O meu Amor.
Mel (1979) - Disco de estúdio que seguiu a linha orquestral de
Álibi.
Grito de Alerta, de Gonzaguinha, foi o hit. Mas
Cheiro de Amor toca até hoje nos programas de
flashbacks das FMs. Bethânia gravava pela primeira vez Ângela RoRo (
Gota de Sangue, com o piano da autora).
Talismã (1980) - Disco de estúdio que reproduz, com menor inspiração, a fórmula de
Álibi e
Mel. O maior sucesso foi o samba
Alguém me Avisou, gravado com Gilberto Gil e Caetano Veloso.
Alteza (1981) - Disco de estúdio que sedimentou o desgaste da fórmula usada por Bethânia naqueles anos. Foi uma fase em que, em vez de conceber um conceito para os discos, ela apenas reunia as músicas que os compositores lhe mandavam. Destaques:
Purificar o Subaé e
Maravida.
Nossos Momentos (1982) - Disco ao vivo que registra o show dirigido por Bibi Ferreira. Gravado no Canecão (RJ) entre 19 de setembro e 3 de outubro de 1982. O destaques são a interpretação magistral de
Vida (Chico Buarque), de alta voltagem emocional, e o samba
O Que É O que É, lançado por Gonzaguinha naquele mesmo ano.
Ciclo (1983) - Primoroso disco de estúdio que marcou o início de fase mais interiorizada, de menor apelo popular. Foi gravado em clima acústico, quando a ordem na indústria fonográfica era empastelar os discos de MPB com teclados. Destaques:
Motriz,
Fogueira (de Ângela RoRo) e a chula
Filosofia Pura, gravada com Gal Costa.
A Beira e o Mar (1984) - Álbum de estúdio, baseado no repertório do show
A Hora da Estrela, um dos mais ousados da trajetória de Bethânia. Bisou o tom intimista de
Ciclo e marcou a (primeira) despedida da cantora da gravadora.
Memória da Pele (1989) - Disco de estúdio que marcou a volta da cantora à Polygram, depois de breve período na BMG. O destaque foi
Reconvexo, tema de Caetano Veloso até hoje presente em seus shows.
Maria Bethânia 25 Anos (1990) - Luxuoso disco de estúdio que trazia até a participação de João Gilberto. A reedição em CD recupera o encarte farto do LP original, com todas as fotos.
Olho d'Água (1992) - Disco interiorizado, de rara beleza, mas que não aconteceu nas paradas.
Medalha de São Jorge e
Ilumina integram um repertório coeso.
As Canções que Você Fez pra mim (1993) - Ao dedicar um álbum ao cancioneiro de Roberto e Erasmo Carlos, Bethânia se reconciliou com as paradas. O disco vendeu cerca de 700 mil cópias. Mas já foi editado em CD com capricho na época do lançamento. Além do texto de Faour, a presente reedição nada acrescenta à anterior.
Maria Bethânia ao Vivo (1995) - Já editado originalmente em CD, o disco registrou o show dirigido por Gabriel Vilella e marcou a despedida definitiva de Bethânia da gravadora na qual viveu seu período de maior sucesso comercial, com trabalhos antológicos, enfim reeditados com requinte condizente com a importância da
Abelha Rainha.