Apesar do caráter histórico, o show
Milton e Caetano - que estreou ontem no Rio e vai ser gravado ao vivo em DVD quando a miniturnê nacional chegar em São Paulo - alterna altos e baixos. Culpa do repertório irregular. A idéia do roteiro - a de juntar somente canções compostas para o cinema, já que Caetano Veloso e Milton Nascimento se uniram neste projeto por conta da parceria retomada para a trilha do filme
O Coronel e o Lobisomem - é boa, mas já foi utilizada com mais êxito em show dividido pelo mesmo Caetano com Gal Costa, em 1996.
A julgar por uma primeira audição, passível de julgamento precipitado, nenhum dos três temas inéditos feitos para o filme (
Sereia,
Perigo e
Senhor do Tempo) está à altura do histórico dos compositores. Ainda que Milton já não exiba o vigor vocal dos áureos tempos (para Caetano, os anos parecem não ter passado...), o show cresce quando a dupla revive jóias do quilate de
A Felicidade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes),
Luz do Sol (Caetano Veloso),
O Amor (Caetano, a partir de poema de Maiakovski) e
Tigresa, única
licença poética do roteiro, já que a música - mesmo não composta para cinema - foi inspirada em Sônia Braga, estrela do filme
A Dama do Lotação, lembrado por Caetano com sua
Pecado Original.
O problema é que há muitas canções dispensáveis - a maioria de Milton, como
O País do Futebol,
Menino Maluquinho e
Tostão, tema do filme
Tostão, A Fera de Ouro - apresentado apenas com vocalises por Caetano, Milton e Marina Machado. Sim, a cantora (protegida de Milton) tem participação excessiva no show, sendo que seu melhor momento é o solo de
Someday my Prince Will Come, do desenho
Branca de Neve. Neste número, Marina tira Milton para dançar. E repete o gesto com Caetano. Um sopro ao final evoca Miles Davis, trompetista que gravou o tema e despertou em
Bituca o gosto pelo jazz.
Funciona bem também a inclusão de
La Violetera, tema espanhol usado por Charles Chaplin em
Luzes da Cidade e, décadas depois, revivido no filme
Perfume de Mulher. No bis, ficou graciosa a versão de
Rock Around the Clock, clássico de Bill Halley and His Comets, propagado pelo filme homônimo. Pena que, no número final, os dois se percam no ritmo sinuoso de
Bye Bye Brasil, de Chico Buarque.
Enfim, o show é histórico, os arranjos são requintados, a banda está entrosada, mas o
filme de Milton Nascimento e Caetano Veloso ainda precisa de ajustes para realmente entusiasmar a platéia - proeza que nem a infalível
Paula e Bebeto conseguiu realmente fazer.