Resenha de CD
Título: Sobras Repletas
Artista: Maurício Tapajós (nas vozes de vários artistas)
Gravadora: CPC-UMES
Cotação: * * * *
Morto em 21 de abril de 1995, Maurício Tapajós teve, não raro, sua obra autoral ofuscada pela incansável militância em favor dos direitos dos músicos e compositores. O CD
Sobras Repletas - cujo lançamento oficial acontece nesta terça-feira, 10 de outubro, em evento agendado para as 20h na gafieira Estudantina (RJ) - integra projeto que objetiva documentar a obra de Tapajós através da digitalização de textos, partituras, manuscritos e áudios com músicas inéditas, arquivadas em 21 fitas cassetes.
Ao aderir ao projeto coordenado por Hermínio Bello de Carvalho (com a adesão dos filhos do compositor, Márcio e Lúcio), a gravadora CPC-UMES viabilizou a edição deste
Sobras Repletas, que reúne músicas raras (a maioria inédita) de Tapajós nas vozes de nomes como Guinga (intenso com sua voz e seu violão em
Que nem Manequim), Chico Buarque e Zé Renato. Pelo tema de abertura,
Vida Jogada Fora, gravado por Joyce, já é possível perceber que as sobras em questão não são restos de uma obra - como é comum em álbuns do gênero - mas gemas à altura do nome do autor e de parceiros como Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc e o próprio Hermínio.
Se Chico Buarque entra no clima de gafieira proposto em
Sábado à Noite, Alaíde Costa é a intérprete talhada para a melancolia romântica de
Calçadas. O samba domina o repertório.
Neide é tributo à homônima porta-bandeira carioca prestado na voz afinada de Zé Luiz Mazziotti.
Calça de Veludo ganha os vocais harmoniosos do MPB-4, com direito a solo do novo integrante Dalmo Medeiros, enquanto
Esse Pobre Brasileiro tem seu suingue realçado por Zélia Duncan. Já
E a Vergonha? evoca propositalmente o estilo e a verve dos sambas de Noel Rosa, citado nos versos cantados por Zé Renato.
Os intérpretes foram bem escolhidos e estão em harmonia com as músicas. Zezé Gonzaga reafirma a maestria vocal na
Valsa do Bem e do Mal.
Maresia, que persegue o universo musical de Dorival Caymmi, parece feita para o vozeirão grave de Dori Caymmi, filho do mestre. E Mônica Salmaso é perfeita para o clima inicialmente camerístico de
Desconsolo, diluído no meio da música com um tamborim percutido pela própria cantora.
De quebra, há gravação inédita de Clara Nunes -
Quem me Dera, extraída de fita de rolo pertencente ao acervo de Hermínio Bello de Carvalho - entre faixas defendidas por Fabiana Cozza (
Vou Deixar pra Amanhã) e Tatiana Parra (
Surdina). Criador que transitava pelo universo mais tradicionalista da música brasileira, em especial do samba, Maurício Tapajós repousa em excelente companhia nestas
sobras repletas de inspiração.