D�cada sem Renato Russo e sem �dolos

Faz dez anos hoje, 11 de outubro de 2006, que Renato Russo morreu. No caso, morte nem � a palavra mais adequada. Por mais clich� que seja, Renato Russo ainda vive. Como Elvis Presley ainda vive. Como John Lennon ainda vive. Como Kurt Cobain ainda vive. Como Raul Seixas ainda vive. Trata-se - guardadas as devidas propor��es, j� que a m�sica dos brasileiros n�o alcan�ou proje��o mundial - de cinco artistas que transcenderam a sua exist�ncia f�sica por for�a de sua obra e de sua ideologia. Triste � constatar que a d�cada vivida sem a presen�a f�sica de Renato Russo foi tamb�m uma d�cada vivida sem novos �dolos no pop rock brasileiro.

"Nossos �dolos ainda s�o os mesmos", reclamou Belchior em 1976 em verso lapidar de Como Nossos Pais. Naquela �poca, h� 30 anos, eram mesmo. Com a abertura do mercado pop no Brasil, a partir dos anos 80, nossos �dolos n�o foram mais os mesmos. Apareceu Cazuza. Apareceu Renato Russo. Com sua figura meio messi�nica, que alternava doses de humor e melancolia em andamento punk, Russo logo se destacou naquela cena efervescente. Era o cara que todos queriam ser. E, por todos, entenda-se gente talentosa que j� tinha conquistado seu pr�prio espa�o, como Dinho Ouro Preto e Herbert Vianna.

A obra da Legi�o Urbana - grupo do qual Renato Russo sempre foi a cabe�a pensante e que se extinguiu instantaneamente com sua morte - permanece atual e atemporal. Vai sobreviver ao longo dos tempos e modismos. Porque havia uma verdade ali, havia a verdade de Renato Russo. N�o � sempre que aparece um artista de seu calibre. Dez anos de sua morte, ainda n�o apareceu outro � sua altura. Bandas de rock ainda fazem sucesso e mobilizam multid�es. Basta citar o culto fervoroso ao quarteto Los Hermanos. Mas � diferente, � outra vibe. Nenhum cantor, solo ou em banda, consegue sequer fazer sombra a Renato Russo. Isso � triste. Porque a juventude precisa de novos �dolos, de refer�ncias s�lidas, de algu�m corajoso o bastante para, em determinando momento, questionar: Que Pa�s � Este???

"Longa � a arte / T�o breve � a vida", j� cantou Tom Jobim em Querida, uma de suas �ltimas m�sicas. Breve, de fato, foi a vida de Renato Russo. Mas sua arte vai ter vida longa. E renascer� sempre que um adolescente se deparar encantado com qualquer disco da Legi�o Urbana. Porque nossos �dolos j� s�o novamente os mesmos...