Resenha de CD
Título: Paula Santoro
Artista: Paula Santoro
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *
Nada como um disco após o outro. Em seu terceiro CD, Paula Santoro apaga a má impressão deixada com o primeiro (
Santo, equivocado trabalho de sotaque eletrônico editado em 1996 e puxado por releitura
dance de
A Festa do Santo Reis, hit de Tim Maia) e reafirma o talento já esboçado no segundo (
Sabiá, gravado em 2002 com músicas de Vander Lee, Ary Barroso e Tom Jobim, entre outros compositores). Produzido por Rodolfo Stroeter, o álbum
Paula Santoro marca a estréia da cantora na gravadora Biscoito Fino e simboliza para a artista uma estréia em todos os sentidos, já que o supra-citado
Sabiá passou em brancas nuvens. Tanto que a gravadora divulga oficialmente tratar-se do primeiro disco da intérprete.
Trata-se, de fato, do álbum mais requintado da cantora mineira, que tem no currículo até passagens por grupos progressivos como o Sagrado Coração da Terra. Com voz segura, Santoro passeia por repertório nada óbvio. A começar literalmente pelo samba que abre o disco,
Se Você Disser que Sim, parceria do maestro Moacir Santos com Vinicius de Moraes, gravada por Elizeth Cardoso em 1963 em álbum dedicado ao repertório do
Poetinha. Em seguida, vem um dueto camerístico com Chico Buarque em
Sem Fantasia, canção da singela fase sessentista do compositor. De Chico, a cantora entoa ainda
Léo, parceria com Milton Nascimento, em que exibe a boa extensão de sua voz.
Santoro combina no CD elementos de samba, MPB - sobretudo a vertente mineira do Clube da Esquina - e de jazz. A influência jazzística aparece nas passagens instrumentais de faixas como a bossa
Segue em Paz, inédita parceria de Milton Nascimento com Toninho Horta, extraída do baú de Horta, que toca seu violão e faz uns
vocalises na faixa. O violão de Horta também valoriza
Nós Dois (Vicente Paiva e Fernando Martins) e
Rainha do meu Samba (Robertinho Brant e Seu Jorge).
A voz segura de Santoro lembra eventualmente a emissão vocal de Leila Pinheiro, sobretudo em faixas como
Não É Céu, de Vítor Ramil. Longe de ser um problema, a semelhança ratifica a técnica apurada da cantora. Entre temas de Fátima Guedes (
É Sério, parceria bissexta com Djavan) e Moacyr Luz (
Yemanjá Rainha, letrada por Aldir Blanc), Paula Santoro mostra a força represada em trabalhos anteriores, ainda que a segunda metade do disco seja ligeiramente inferior à primeira.