Resenha de CD
Título: Pérolas Raras
Artista: Elis Regina
Gravadora: Universal
Cotação: * * *
Elis Regina tinha alto padrão de interpretação até em gravações realizadas para compactos e projetos especiais - nunca incluídas nos chamados
discos de carreira. O rigor estilístico da cantora é comprovado nas 14 jóias reunidas em coletânea que inaugura a série
Pérolas Raras, da Universal. A compilação complementa a garimpagem feita no baú da
Pimentinha para a edição, em janeiro de 2002, do álbum duplo
20 Anos de Saudade.
O que se ouve basicamente em
Pérolas Raras são gravações alternativas lançadas originalmente em compactos. São registros diversos das gravações
oficiais incluídas nos LPs de Elis. Entre os
takes alternativos, há a versão de
Arrastão para compacto de 1965. A parceria de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, que projetou Elis em escala nacional em festival exibido naquele ano, quase nunca foi ouvida neste obscuro registro. O tom imponente do arranjo orquestral é bisado em outra gravação de compacto: a de
Travessia, feita pela intérprete em 1967, quase simultaneamente ao registro do autor, Milton Nascimento, lançado por ela em 1966 com a gravação da
Canção do Sal.
Ainda na seara dos compactos, as maiores relíquias - possivelmente desconhecida até por fãs mais fiéis de Elis - são as duas gravações do compacto em espanhol gravado pela artista em 1965. As músicas são
Menino das Laranjas (de Théo de Barros, mais conhecido por sua parceria com Geraldo Vandré em
Disparada) e
Sou sem Paz. Em
El Niño das Naranjas, Elis impressiona pela desenvoltura e suingue com que canta em espanhol.
A capa e arte gráfica da coletânea são horrorosas, aquém até mesmo do padrão estabelecido pela Universal em séries econômicas como
Millennium, mas o que conta, a rigor, é poder perceber como a
Pimentinha ardia até nas gravações extra-oficiais. Explosiva no registro ao vivo de
Terra de Ninguém, feito em 1964 em dueto com Marcos Valle para o disco
A Bossa no Paramount, Elis tinha densidade que transparece até na gravação do tema infantil
A Coruja (Corujinha), feita em 1980 para o projeto
A Arca de Noé, de Vinicius de Moraes. Anos antes, no início da década de 70, Elis tinha incorporado o soul em seu repertório. E é como uma negra cantora americana de soul que ela apresenta
Black Is Beautiful (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) em versão ao vivo de 1971, captada na abertura do programa
Som Livre Exportação.
No geral, o som do CD é satisfatório, mesmo porque a maioria das gravações - a exemplo de
Ensaio Geral, ouvida na versão do compacto duplo
Elis e os Festivais e na gravação ao vivo do LP
Viva o Festival da Música Popular Brasileira, ambas de 1966 - vem de meados dos anos 60. Foi quando Elis se revelou uma grande cantora, cuja voz reluz nestas pérolas raras de alto quilate.