Resenha de discoTítulo: De Uns Tempos pra CáArtista: Chico CésarGravadora: Biscoito FinoCotação: * * *Depois de dialogar com a linguagem do cancioneiro brega nacional em
single marotamente intitulado
Compacto e Simples, Chico César incursiona por terreno mais erudito com sua música de cunho popular. Nas lojas no início de outubro, pela Biscoito Fino, o sexto álbum do compositor,
De Uns Tempos pra Cá, foi gravado com o Quinteto da Paraíba - responsável pelos arranjos de textura camerística.
As cordas do Quinteto embalam músicas de diversas épocas e sonoridades. Se o CD soa clássico na modinha
Pra Cinema (composta em meados dos anos 80), ele adquire um tom de lamento nordestino em
Moer Cana. Primeira parceria do compositor paraibano com seu xará Chico Pinheiro,
1 Valsa para 3 reafirma o refinamento da música do violonista, autor da melodia.
De Uns Tempos pra Cá é disco denso em que Chico César põe em segundo plano o balanço miscigenado de sua música, mas ele - o suingue - também se faz presente em
Orangotanga (tema de 2000 que chegou a batizar uma turnê européia do artista). A faixa conta com a percussão de Escurinho, pernambucano radicado na Paraíba, amigo de infância de Chico. A raiz nordestina também brota no rock-xaxado
Por Causa de um Ingresso de Festival Matou Roqueira de 15 Anos - que traz a voz de Elba Ramalho e tem seu título "roubado" de manchete do jornal
O DIA - e em
Outono Aqui, versão de
Autumn Leaves. Os sons da introdução desta releitura do
standard americano remetem à Banda de Pífanos de Caruaru. Já
Por que Você Não Vem Morar Comigo? é canção romântica de tom mais popular, em que o autor volta a dialogar com o brega, ainda que em clima chique.
Três regravações valorizam o disco.
Alcaçuz é deliciosa canção pop de César gravada por Vãnia Abreu em 1998. O samba
A Nível de... (de João Bosco e Aldir Blanc, lançado por Bosco em 1982) tem tom jocoso que dá leveza a um disco tenso. E, a propósito, as cordas do Quinteto da Paraíba sublinham magistralmente a tensão dos versos de
Cálice, o petardo asfixiante arremessado por Chico Buarque e Gilberto Gil contra a ditadura nos anos 70. Incrementada com vozes sacras na introdução, a pungente releitura de
Cálice confirma o talento do artista, que chega ao sexto disco com sua obra íntegra, dez anos depois do lançamento do primeiro CD,
Aos Vivos. A última década ficou musicalmente mais rica com a presença de Chico César, hábil atravessador da tênue fronteira entre o popular e o erudito.