Marina volta à meia-voz, mas inteira...
Resenha de CD
Título: Lá nos Primórdios
Artista: Marina Lima
Gravadora: EMI
Cotação: * * *
Em 2003, dois anos depois de ter lançado fracas inéditas no esmaecido Setembro, Marina Lima fez o jogo da indústria fonográfica e tentou voltar às paradas com Acústico MTV que, de tão inapropriado, foi um dos poucos da série que não aconteceu no mercado. Em seu novo disco, Lá nos Primórdios, Marina procura (e encontra) um tom mais pessoal.
A decepção é certa para quem buscar no CD - produzido pela própria Marina com Renato Alsher - a compositora dos áureos tempos, autora de um pop redondo. Não há hits previsíveis neste Lá nos Primórdios, cuja origem foi o cultuado e quase homônimo show Primórdios, estreado em São Paulo no ano passado com tonalidade teatral criada pela diretora Monique Gardenberg. A voz também contina sem o viço de outrora. O canto de Marina eventualmente até adquire um tom falado, mas não soa insuficiente dentro da atmosfera do disco.
No estúdio, Marina buscou sonoridade crua e rascante, urdida sobretudo com sons de guitarra e sintetizadores. Uma ambiência eletrônica envolve repertório formado por cinco inéditas, três recriações de lados B de sua obra e incursões pelos repertórios de Chico Buarque e Laurie Anderson. Das inéditas, o quase tango Três e o rock indie Entre as Coisas são os destaques. Anna Bella - inspirada na artista plástica Anna Bella Geiger - chama mais atenção por verso questionador ("Por que as mulheres também não podem ter sua sauna gay?") do que pela melodia pouco inspirada. A balada Que Ainda Virão - faixa mais intimista do disco e única inédita que ainda não tinha sido apresentada no show Primórdios - também não se encontra entre as melhores criações de Marina. Já Valeu cresce no remix de DJ Dolores, que acentua a batida da ciranda apenas insinuada na gravação original.
As três recriações da própria lavra da artista estão em sintonia com o sotaque cru do álbum. Difícil (de Todas, álbum de 1985) é a do verso "Sexo é bom!", um marco na época por ser ouvido na voz de uma mulher. $ Cara vem do repertório de A Próxima Parada, disco de 1989 cujo resultado final desagradou Marina. Por fim, Meus Irmãos é de O Chamado, álbum de 1993.
O toque mais experimental fica por conta de Vestidinho Vermelho, versão de Alvin L para Beautiful Red Dress, música lançada em 1989 por Laurie Anderson, cantora e compositora americana, identificada com a vanguarda. A faixa tem clima underground e aparece também em remix feito para as pistas por DJ Zé Pedro. A outra incursão de Marina fora de sua seara autoral é Dura na Queda, samba composto por Chico Buarque em 2000 para peça baseada na vida da cantora Elza Soares. Marina ralenta o ritmo do samba em releitura que não empolga.
Lá nos Primórdios foi gravado e arranjado por Marina com os músicos que tocaram no show que gerou o disco. Entre eles, o guitarrista Fernando Vidal (muito responsável pelo tom rascante do álbum), o tecladista Dudu Trentin, o baixista Edu Martins e o baterista Alex Fonseca. Há rara unidade entre os arranjos.
Aos 50 anos, completados em setembro de 2005, Marina busca realçar sua personalidade musical com a voz que lhe resta. Consegue. Lá nos Primórdios supera - e muito - o anêmico Setembro. Mesmo à meia-voz, Marina quer mostrar que continua inteira.
Título: Lá nos Primórdios
Artista: Marina Lima
Gravadora: EMI
Cotação: * * *
Em 2003, dois anos depois de ter lançado fracas inéditas no esmaecido Setembro, Marina Lima fez o jogo da indústria fonográfica e tentou voltar às paradas com Acústico MTV que, de tão inapropriado, foi um dos poucos da série que não aconteceu no mercado. Em seu novo disco, Lá nos Primórdios, Marina procura (e encontra) um tom mais pessoal.
A decepção é certa para quem buscar no CD - produzido pela própria Marina com Renato Alsher - a compositora dos áureos tempos, autora de um pop redondo. Não há hits previsíveis neste Lá nos Primórdios, cuja origem foi o cultuado e quase homônimo show Primórdios, estreado em São Paulo no ano passado com tonalidade teatral criada pela diretora Monique Gardenberg. A voz também contina sem o viço de outrora. O canto de Marina eventualmente até adquire um tom falado, mas não soa insuficiente dentro da atmosfera do disco.
No estúdio, Marina buscou sonoridade crua e rascante, urdida sobretudo com sons de guitarra e sintetizadores. Uma ambiência eletrônica envolve repertório formado por cinco inéditas, três recriações de lados B de sua obra e incursões pelos repertórios de Chico Buarque e Laurie Anderson. Das inéditas, o quase tango Três e o rock indie Entre as Coisas são os destaques. Anna Bella - inspirada na artista plástica Anna Bella Geiger - chama mais atenção por verso questionador ("Por que as mulheres também não podem ter sua sauna gay?") do que pela melodia pouco inspirada. A balada Que Ainda Virão - faixa mais intimista do disco e única inédita que ainda não tinha sido apresentada no show Primórdios - também não se encontra entre as melhores criações de Marina. Já Valeu cresce no remix de DJ Dolores, que acentua a batida da ciranda apenas insinuada na gravação original.
As três recriações da própria lavra da artista estão em sintonia com o sotaque cru do álbum. Difícil (de Todas, álbum de 1985) é a do verso "Sexo é bom!", um marco na época por ser ouvido na voz de uma mulher. $ Cara vem do repertório de A Próxima Parada, disco de 1989 cujo resultado final desagradou Marina. Por fim, Meus Irmãos é de O Chamado, álbum de 1993.
O toque mais experimental fica por conta de Vestidinho Vermelho, versão de Alvin L para Beautiful Red Dress, música lançada em 1989 por Laurie Anderson, cantora e compositora americana, identificada com a vanguarda. A faixa tem clima underground e aparece também em remix feito para as pistas por DJ Zé Pedro. A outra incursão de Marina fora de sua seara autoral é Dura na Queda, samba composto por Chico Buarque em 2000 para peça baseada na vida da cantora Elza Soares. Marina ralenta o ritmo do samba em releitura que não empolga.
Lá nos Primórdios foi gravado e arranjado por Marina com os músicos que tocaram no show que gerou o disco. Entre eles, o guitarrista Fernando Vidal (muito responsável pelo tom rascante do álbum), o tecladista Dudu Trentin, o baixista Edu Martins e o baterista Alex Fonseca. Há rara unidade entre os arranjos.
Aos 50 anos, completados em setembro de 2005, Marina busca realçar sua personalidade musical com a voz que lhe resta. Consegue. Lá nos Primórdios supera - e muito - o anêmico Setembro. Mesmo à meia-voz, Marina quer mostrar que continua inteira.
28 COMENTÁRIOS:
procurei o disco e não encontrei. já chegou às lojas, Mauro?
é alentador saber que marina desta vez chegou (voltou) no ponto. o show foi primoroso. vou buscar o meu. marina tem estilo.
moro em Sampa e aqui já chegou. ainda não comprei, ouvi um pouco na loja e achei ótimo. vestidinho vermelho é tudo!
Nossa Mauro, a maneira que você encontrou pra concluir a resenha é duro e, linda.Acho que é quando você diz: " com a voz que lhe resta( é duro e nos deixa no suspense, para logo em seguida fechar com o comovente" e consegue".
Viva Marina! E' verdade, ela tem estilo!
Beto
As pessoas esperam que a Marina seja como alguns cantores [principalmente dos anos 80] que vivem do passado, cantando as mesmas músicas e fazendo os mesmos shows. A Marina soube superar seus problemas e se adaptar as deficiências vocais. Ela faz exatamente o que sugere ma música "Três", se reinventa [apesar de tentar isso há um tempo, parece finalmente ter encontrado um caminho para seguir]. A sonoridade de "Lá Nos Primórdios" é única, sofisticada, e diferente de qualquer coisa existente. E em relação ao disco "Setembro", eu discordo do Mauro, não acho que o disco seja fraco, nele, existem canções primorosas como "No Escuro", "Notícias", "Me Diga," "Paris-Dakar" e "Fala". O problema é essa ETERNA comparação com a Marina nos anos 80, buscando uma Marina não existe mais.
Procuro estilo em desenhistas de moda, arquitetos e afins. No que diz respeito às cantoras, procuro voz e música.
Marina sempre chega, mesmo que não supere as espectativas, porque como autora é ímpar até na hora de recriar, na verdade ela refaz.
A voz a abandonou, mas seu estilo único ainda é o seu forte.
Amo Marina, como a musa do meu tempo (desde os primórdios), dos shows no teatro Ipanema e as primeiras idagações contra a caretice, até hoje quando a elegância do seu MTV ao vivo não agrada (digo: não vende 50 mil cópias).
É porque seu público anda ávido por saborear novas formas de Marina.
E quem disse que ela não faria?
A voz de Marina é a música que ela encarna, sua própria alma.
já tem na modern sound há duas semanas!
esse povo que quer fazer poesia em comentário de blog é uó, hein... poupem a gente, por favor...
esse povo que quer fazer poesia em comentário de blog é uó, hein... poupem a gente, por favor...
Marina continua linda aos cinquentinha, hein?
Se não há hits PREVISÍVEIS, significa uma decepção?
Parabéns por defender a ARTE, Mauro.
Porque arte boa é arte previsível, né?
Viva Ivete Sangalo, então!
Gosto do CD Setembro. Tem belas canções, a voz de Marina que incomoda, assim como foi sua voz que atrapalhou as vendagens do MTV. Dura na queda na voz de Elza Soares é luxo só, vamos ver com Marina.
"Procuro estilo em desenhistas de moda, arquitetos e afins. No que diz respeito às cantoras, procuro voz e música."
Porém, um desenhista de moda, um arquiteto e afins que não tenha musicalidade é tão monotono.Assim como uma cantora sem estilo, pode ser de um tédio mortal.
Continuo preferindo quem tem estilo em toda e qualquer ramo de arte.
Beto
A pessoa do comentário se trai descaradamente. Nunca leu uma poesia.
beto...vc está certíssimo. é isso aí.
Anonimo das 18:18, não foi feito poesia, foi feito um enchimento de linguiça - realmente é uó.
Eu prefiro cantoras que saibam cantar.
Coitado deste cara!(é homem mesmo?).
a marina é insuportável e está na lama não só pela falta do que nunca teve: voz, mas também pelo jeito arrogante de ser o que lhe custou muitas inimizades. ela peitou por exemplo toots t. em um antigo free jazz, colocando mil exigencias para participar do show do maravilhoso gaitista. O que ela conseguiu foi levar um passa fora daqueles do grande musico e que ficou famoso nos anais do teatro do hotel nacional.
Marina insuportável? Ela é deliciosa, mesmo sem voz!
olha, o que se vê nesses comentários é que Marina sempre provocou ódios e amores. os ódios, pra mim, são dos caras que vivem na era das concessões. não adianta querer participar de um show ou de um disco só por causa do nome do artista, se nao tem nada a ver com o estilo dela. nesse ponto ela sempre foi, chata, intransigente e por isso mesmo, admirável.
o acústico nao vendeu porque é fino demais para o mercado.
setembro nao é "nem luxo, nem lixo", e pra mim, "primórdios" é fruto de um amadurecimento desde "setembro", quando marina começou a produzir e gravar de forma independente.
a voz da marina nao sumiu, ela é capaz de encantar porque transmite a sua verdade, e isso, pra mim, é o diferencial das grandes cantoras.
por fim, acho que a resenha foi muito superficial na analise das canções. eu acho que pra falar de marina é preciso cuidado, porque entender a sua obra é "difícil"...
Toots T.? Ah, sim Toots Thielemans, aquele que nos anos 70 gravou um disco com a Elis Regina, que todo mundo pula as faixas instrumentais na hora de ouvir o disco, ou que se as escuta é somente por preguiça de pular as faixas...
Me poupem. Marina Lima, pelo menos no Brasil, é muito mais estrela que qualquer músico estrangeiro. Se fez exigências deve ter sido pq o Thielemans é muito chato, ela não devia era querer participar ao lado dele.
com este cd renovei meus votos com a marina pelos próximos trinta anos...ou mais.
Não canso de ouvir este CD. Desde Fullgas não curtia tanto um lance da Marina. Sensacional.
idem ao anonimo das 21.31. amei!!!
Eu sou fã de Marina desde q me entendo por gente. Comecei no Desta Vida, Desta Arte... conheco toda a sua obra, e posso dizer, não ha um unico disco de estudio dela q eu desgoste... com excecao... deste "La nos primordios". O q aconteceu com Marina? Voz? Nunca foi problema, o "Sissi na Sua" periga ser o melhor disco da carreira dela, e ali tem so um fiapo de voz, bem menos do q hoje. Mas este novo disco, eh ruim, oh god, eh ruim de doer. Tem apenas uma musica boa, q eh "Três". Linda harmonia, linda melodia, e apesar de gostar do arranjo, acho um pouco oco, parece demo. Enfim, ou ela muda esse novo conceito, ou perdeu um fã.
em compensação, retomou outro fã. andava cansado da marina, acabava ouvindo os mesmos cds um pouco mais antigos, mas este daí me chapou. gostei de cada faixa. marina manteve o estilo mas espraiou um pouco seu lance. gostei muito. bem vinda de volta, marina lima. eu estava com saudade...
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