Arrigo explica missa escrita para Itamar

Em filosófico texto escrito para o encarte do disco, o compositor paranaense conceitua este trabalho atípico até numa discografia de caráter experimental. Com a palavra, Arrigo Barnabé, eternamente associado, ao lado do amigo Itamar, ao som que se convencionou rotular de vanguarda paulista:
"Nunca me imaginei escrevendo uma missa para o Itamar. Aliás, sempre me pareceu mais lógico o contrário, pois Itamar tinha uma saúde de ferro, nunca adoecia. Mas parece que, a partir dos 50 anos, de fato, começamos a viver a experiência do luto e a tomar consciência da finitude humana, de uma forma muito mais concreta. Então nosso olhar pode se voltar para a espiritualidade - não falo de seitas, religiões ou espíritos - mas para a vida que permanece, aquela que não é absorvida no ciclo biológico. Então penetramos em nosso íntimo, em nossa afetividade mais recôndita, e lá encontramos o alimento, a energia, que vai nortear o trabalho. Digo que nosso olhar pode se voltar para a espiritualidade, porque essa é uma das possibilidades de nossa alma, mas não necessariamente a única. Para mim foi dessa forma - além do que, parecia que o Itamar cada vez mais se voltava para o imperecível (o que já justificaria uma abordagem espiritual) - e o que nos vivenciamos em nossa estrada, as experiências, angústias e as pequenas alegrias divididas, tudo isso criou lastro suficiente para abastecer emocionalmente e para gerar um entusiasmo capaz de alicerçar esta obra".
Arrigo Barnabé
<< Home