Aragão se renova na variedade do samba
Resenha de CD
Título: E Aí?
Artista: Jorge Aragão
Gravadora: Indie Records
Cotação: * * * *
Assim como seu samba Coisinha do Pai, usado em 1997 para acordar robô da NASA, Jorge Aragão quase viu sua carreira ir para o espaço por conta de sucessivos e redundantes CDs ao vivo. Mas sua dilapidada obra ganha novo fôlego com o disco de inéditas E Aí?, que, espera-se, não seja atropelado por outro álbum ao vivo como aconteceu com o anterior Da Noite pro Dia (2004).
A renovação está, sobretudo, no tom do disco. Há, sim, os sambas dolentes e melancólicos que costumar dominar os trabalhos de Aragão e fazem saltar a veia poética do artista. A Vida É Rápida, Emoção Sincera (de autoria de Sombra) e Ninguém É Perfeito são alguns deles. Mas E Aí? é CD alegre, jovial.
Sem sair de seu quintal, Aragão transita pela diversidade rítmica do samba. Se À Sombra da Amendoeira tem cadência baiana próxima da chula, inaugurando a parceria do compositor com Jorge Portugal e Roberto Mendes, Não É Segredo é delicioso samba de quadra composto por Aragão com Flávio Cardoso. Já Adepto do Samba Sincopado exibe, como o título já anuncia, uma melodia toda balançada, à moda dos sambas popularizados por Cyro Monteiro nos anos 40.
A maior surpresa é a adesão de Aragão ao samba-rock. Ele tirou do baú jóia pouco lapidada do gênero - e a preciosidade vem do repertório de Roberto e Erasmo Carlos! Mané João teve sua primeira gravação em 1972, em LP magistral do Tremendão. A leitura de Erasmo continua imbatível, mas Aragão não derrapa no suingue do tema. A outra regravação, menos surpreendente, é Partido Alto. O clássico de Chico Buarque, também de 1972, ressurge em tom suave, sem o rancor (necessário nos anos de chumbo) do registro do autor.
Aragão, aliás, soube colher frutos em árvores alheias. Retrato da Desilusão é obra-prima da parceria bissexta de Monarco com seu filho Mauro Diniz. A dor expressa na letra contrasta com a pulsação vibrante do samba. Malaco (Alcino Correia e Márcio Vanderlei) é bela ode aos bambas do Império Serrano. E Disciplina (Serginho Meriti e Frank Daiello) é samba de boa estirpe.
Em disco produzido com arranjos calcados em percussões e metais, sem os teclados que por vezes pausterizam o samba, Sem Dívida Nem Dúvida abre o trabalho em clima suburbano e reafirma a inspiração autoral de Jorge Aragão, que se renova quando o deixam ir para o estúdio...
Título: E Aí?
Artista: Jorge Aragão
Gravadora: Indie Records
Cotação: * * * *
Assim como seu samba Coisinha do Pai, usado em 1997 para acordar robô da NASA, Jorge Aragão quase viu sua carreira ir para o espaço por conta de sucessivos e redundantes CDs ao vivo. Mas sua dilapidada obra ganha novo fôlego com o disco de inéditas E Aí?, que, espera-se, não seja atropelado por outro álbum ao vivo como aconteceu com o anterior Da Noite pro Dia (2004).
A renovação está, sobretudo, no tom do disco. Há, sim, os sambas dolentes e melancólicos que costumar dominar os trabalhos de Aragão e fazem saltar a veia poética do artista. A Vida É Rápida, Emoção Sincera (de autoria de Sombra) e Ninguém É Perfeito são alguns deles. Mas E Aí? é CD alegre, jovial.
Sem sair de seu quintal, Aragão transita pela diversidade rítmica do samba. Se À Sombra da Amendoeira tem cadência baiana próxima da chula, inaugurando a parceria do compositor com Jorge Portugal e Roberto Mendes, Não É Segredo é delicioso samba de quadra composto por Aragão com Flávio Cardoso. Já Adepto do Samba Sincopado exibe, como o título já anuncia, uma melodia toda balançada, à moda dos sambas popularizados por Cyro Monteiro nos anos 40.
A maior surpresa é a adesão de Aragão ao samba-rock. Ele tirou do baú jóia pouco lapidada do gênero - e a preciosidade vem do repertório de Roberto e Erasmo Carlos! Mané João teve sua primeira gravação em 1972, em LP magistral do Tremendão. A leitura de Erasmo continua imbatível, mas Aragão não derrapa no suingue do tema. A outra regravação, menos surpreendente, é Partido Alto. O clássico de Chico Buarque, também de 1972, ressurge em tom suave, sem o rancor (necessário nos anos de chumbo) do registro do autor.
Aragão, aliás, soube colher frutos em árvores alheias. Retrato da Desilusão é obra-prima da parceria bissexta de Monarco com seu filho Mauro Diniz. A dor expressa na letra contrasta com a pulsação vibrante do samba. Malaco (Alcino Correia e Márcio Vanderlei) é bela ode aos bambas do Império Serrano. E Disciplina (Serginho Meriti e Frank Daiello) é samba de boa estirpe.
Em disco produzido com arranjos calcados em percussões e metais, sem os teclados que por vezes pausterizam o samba, Sem Dívida Nem Dúvida abre o trabalho em clima suburbano e reafirma a inspiração autoral de Jorge Aragão, que se renova quando o deixam ir para o estúdio...
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