Fernanda Abreu exp�e em 'MTV ao Vivo' patrulha social que cerceia o baile funk

Resenha de CD
T�tulo: MTV ao Vivo
Artista: Fernanda Abreu
Gravadora: Universal Music
Cota��o: * * *

� som de preto, de favelado - como prega, orgulhoso, o refr�o do funk dos MCs Amilcka, Baby e Chocolate. Cantado por artista branca, para um p�blico de classe m�dia criado com vis�o preconceituosa da favela, adquire conota��o pol�tica ainda maior. � esse vi�s pol�tico que permeia e valoriza a primeira grava��o ao vivo de Fernanda Abreu, realizada dentro da s�rie MTV ao Vivo, em dois shows realizados no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro (RJ), em 30 e 31 de mar�o. O DVD sai somente no in�cio de julho, mas o CD j� est� nas lojas e supera a impress�o da grava��o. N�o � de hoje que Fernanda canta funk, mas nunca com um tom t�o politizado como o deste projeto.

Muito da for�a do disco vem tamb�m de seu som l�mpido, captado com qualidade acima da m�dia em trabalhos do g�nero (efeito talvez da acertada op��o de ter feito o show em teatro de boa ac�stica). A energia das apresenta��es transparece no disco. E Fernanda - extremamente cuidadosa com seus trabalhos - sempre fez shows marcados por requinte visual que poder� ser apreciado no DVD, que trar� tamb�m Mart'n�lia em Tudo Vale a Pena, n�mero ausente do CD.

No MTV ao Vivo de Fernanda Abreu (acima em foto de Nino Andr�s, tirada na grava��o), as caixas de som que moldam o cen�rio simbolizam os bailes funks, dos quais a cantora extraiu a maioria dos temas que comp�em o Bloco Funk. E nessa valoriza��o do universo funk reside a for�a pol�tica do disco. "N�o me bate, doutor, que eu sou de batalha / Eu acho que o senhor est� cometendo uma falha", canta a artista no funk N�o me Bate, Doutor, de autoria de Cynthia. Ao dizer versos como esses para seu p�blico, majoritariamente criado no asfalto, Fernanda exp�e a patrulha social que teima em cercear os bailes funks e passa seu recado para quem, em tese, pode ajudar a disseminar o preconceito contra o 'som de preto, de favelado'. E o recado ganha sutil ironia por integrar projeto linkado � MTV, emissora dominada pela �tica e pela m�sica do asfalto.

A �tima in�dita Baile Funk, de Rodrigo Maranh�o, tamb�m remexe na ferida dessa briga que op�e ideologias e classes sociais. "Acabaram com o baile funk / Pois havia rebeldia / Na palavra do poeta / No barulho que se ouvia", diz a letra. Maranh�o � tamb�m o autor da balada charm Dance Dance, a outra in�dita de um trabalho que, a rigor, n�o avan�a na est�tica adotada por Fernanda Abreu em seu melhor CD (Da Lata, 1995) e na qual ela permanece estacionada depois de dois �lbuns de menor express�o e proje��o (Entidade Urbana e Na Paz). Mas o MTV ao Vivo da artista tem l� seus encantos. Seja pela inclus�o de marchinhas carnavalescas no Bloco Funk, pela regrava��o de m�sica da Blitz (a balada A Dois Passos do Para�so) ou pela evoca��o, no Bloco Rap Rio 2006, do orgulho negro disseminado pelo movimento Black Rio nos anos 70, com direito a cita��o de hits de �cones como Gerson King Combo. A garota � sangue bom.