Harper peca pelo excesso em CD duplo

Resenha de CD
Título: Both Sides of the the Gun
Artista: Ben Harper
Gravadora: EMI
Cotação: * * *

É preciso muita munição, e certeira, para um artista bancar um álbum duplo. Ben Harper peca pelo excesso em Both Sides of the Gun. É o sexto disco solo de estúdio do cantor e compositor, o primeiro desde Diamonds on the Inside, de 2003. Produzido pelo próprio artista, Both Sides of the Gun poderia ter tido seu repertório de 18 músicas condensado em um único CD à altura da discografia do astro. Diluído em dois, esse repertório soa menos coeso, ainda que garanta alguns isolados bons momentos. O CD 1, acústico, é o das canções, algumas de tom amoroso. Começa muito bem, com Morning Yearning e Waiting for You, mas vai perdendo o pique. O gospel Cryin' Won't Help You Now sequer roça o sublime alcançado por Harper em There Will Be a Light, o álbum dividido por ele em 2004 com o grupo gospel The Blind Boys of Alabama. O CD 2, mais pesado, traz a mistureba que caracteriza o som do artista. Se a faixa-título é um funk a la James Brown, o rock Engraved Invitation expõe Harper como um clone dos Rolling Stones dos anos 70. Aliás, grooves setentistas também dão o tom em Black Rain, sobre os efeitos políticos do furacão Katrina. Há ainda um blues, Please Don't Talk About Murder While I'm Waiting. Enfim, um bom álbum. Que poderia ter sido estupendo se o artista tivesse limado os excessos.