Chico relata impressões em filme sobre a feitura de 'Carioca': 'O fato de ter escrito um livro me torna um músico melhor'

"O fato de eu ter escrito um livro me torna um músico melhor. Não tenho dúvida disso. Agora explicar é complicado...", argumenta Chico. O filme seduz quando as câmeras captam takes realmente informais - como os das estripulias feitas pelos netos do compositor no estúdio. Ou o momento da gravação da valsa Imagina em que Chico relata aos presentes - incluindo a cantora Mônica Salmaso, convidada da faixa - a genialidade precoce de Tom Jobim. Imagina, conta Chico, teve sua melodia composta por Tom em 1947 como um exercício de classe. Nascia ali, naturalmente perfeita, a primeira música do maestro soberano, letrada somente em 1983 por Chico para a trilha do filme Para Viver um Grande Amor.
Entre trechos de gravações, o compositor vai expondo impressões e sentimentos sobre as músicas e sobre o trabalho em estúdio. "Estou acostumado a ficar fechado, trabalhando dentro de casa. Não tenho essa sensação de clausura dentro do estúdio. Tô aqui em movimento, trocando idéias... A gente se diverte... A clausura é lá dentro de casa. É o momento da criação", compara o artista, depois de revelar que suas letras nunca surgem do nada. "Nunca escrevi uma letra sem música. Isso nunca aconteceu, nunca. Muitas vezes, a música surge e a letra vai se esboçando ao mesmo tempo. Em outras, a música vai ficando pronta e a letra vem depois...".
Criação à parte, Chico arrisca tocar violão no palco, mas, no estúdio, deixa o instrumento nas mãos do arranjador Luiz Cláudio Ramos. "Gravar ao mesmo tempo voz e violão é complicado... Meu violão é meio sujo", avalia, com a certeza da cumplicidade com seu violonista e maestro. "Com Luiz Cláudio, é mais fácil discutir minúcias e detalhes harmônicos". Minúcias que garantem o requinte instrumental de Carioca, CD que impressiona mais pelos arranjos do que pelas músicas em si.
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