Desenhos melódicos de 'Arquitetura da Flor' atestam vigor criativo de Francis
Resenha de CD
Título: Arquitetura da Flor
Artista: Francis Hime
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *
Bissexto parceiro de Chico Buarque em obras-primas como Atrás da Porta (1972) e Trocando em Miúdos (1978), Francis Hime é dos mais inspirados melodistas da MPB. Fruto da segunda geração bossa-novista, discípulo mais da erudição de Tom Jobim que da batida de João Gilberto, o compositor surgiu na primeira metade dos anos 60, gravou discos antológicos nos 70 e - assim como outros expoentes de sua geração - perdeu espaço na década de 90 para os modismos que passaram a ditar regras no mundo do disco. Foi somente a partir de seu ingresso na gravadora Biscoito Fino que Hime conseguiu retomar sua carreira fonográfica com regularidade. Arquitetura da Flor, álbum de inéditas, é o sucessor de Brasil Lua Cheia (2003). Foi desenhado com sonoridade mais econômica e menos orquestral. Ainda que um ou outro samba, especialmente O Mar do Amor Total, mantenha o tom majestoso típico dos álbuns do artista (acima, em foto de Leonardo Aversa).
Nem sempre associada ao samba, o ritmo que permeia o álbum, a economia instrumental até realça a beleza das melodias do compositor, letradas por parceiros como Geraldo Carneiro, Olivia Hime e Simone Guimarães. Já a partir da faixa de abertura, A Invenção da Rosa, ouve-se um Francis em plena forma. Com direito até a uma incursão (quase) pop em História de Amor, tema em que dueta com Nina Becker, vocalista da Orquestra Imperial.
O inevitável destaque do repertório é Sem Saudades, parceria póstuma com Cartola. Hime recebeu a letra de uma neta do autor mangueirense e criou melodia em sintonia com o espírito da obra do saudoso colega, ainda que não siga exatamente os cânones do mestre. Intérprete como sempre irretocável, a já onipresente Zélia Duncan - convidada da faixa - abre o primoroso samba que resultou da (improvável) parceria.
A poesia de Geraldo Carneiro domina o CD, com destaque para a valsa A Musa da TV e para o samba Mais-que-Imperfeito. Já o lirismo onírico de Olivia Hime é o mote da letra de Desacalanto. No mesmo tom refinadamente poético, Hime musicou versos de Abel Silva em Do Amor Alheio, tema que cita Consolação, de Vinicius de Moraes.
E por falar no Poetinha, três faixas são regravações. A Dor a Mais e Palavras Cruzadas - parcerias com Vinicius de Moraes e Toquinho, respectivamente - têm arranjos escritos apenas para o quinteto que toca na maioria das músicas e que é formado por Ricardo Silveira (guitarra), Marcelo Costa (percussão), Jorge Helder (baixo), Téo Lima (bateria) e pelo próprio Hime ao piano. A terceira regravação é Gozos da Alma, lançada por Leila Pinheiro no CD Nos Horizontes do Mundo. Ofuscada pelo tititi em torno de Renata Maria (a mediana parceria inaugural de Chico Buarque com Ivan Lins que Leila apresentou no mesmo álbum), Gozos da Alma é música recente que atesta o permanente vigor criativo de Francis Hime.
2 COMENTÁRIOS:
admiro francis, o que questiono é se a biscoito fino tem poder para impor um artista como ele em meio a um mercado vulgarizado.
Cabe a nós, admiradores das belíssimas melodias do Francis, impô-lo neste mercado tão vulgarizado e medíocre. Vamos comprar o CD e fazer o boca-a-boca. Não há melhor propaganda!!!
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