Nasi vai onde o Ira! não ousa mais pisar

Resenha de CD
Título: Onde os Anjos Não Ousam Pisar
Artista: Nasi
Gravadora: Sony & BMG
Cotação: * * *

Fora do Ira!, grupo do qual é vocalista há 25 anos, Nasi já gravou três discos com o grupo Irmãos do Blues. Mas Onde os Anjos Não Ousam Pisar pode ser considerado seu primeiro trabalho realmente individual. Produzido pelo próprio Nasi, com o auxílio luxuoso de Apollo 9, o CD oferece mais do que o blues mostrado em faixas como Acredito no Amor e Eu Não me Canso de Dizer. É disco de som moderno e sotaque indie e marginal.

Efeitos disfarçam a insuficiência vocal do cantor, um dos piores do pop rock nacional. Mas o que conta é a atmosfera meio estranha que se anuncia a partir da capa, na qual Nasi aparece caracterizado como o super-herói Wolverine (homenageado também no título do Wolverine Blues). Se o rock Corpo Fechado incorpora batidas afros e algo do hip hop (Nasi já produziu disco dos pioneiros Thaíde & DJ Hum - vale lembrar aos puristas), a faixa-título, parceria de Zé Rodrix e Etel Frota, é balada de aura espacial.

O inusitado arsenal de instrumentos do disco (mellotron, hammond, clavinet e o acordeom que adorna o country rock O Outro Lado da Moeda) valoriza o bom repertório. Assim como as letras, mais consistentes do que as da fase atual do Ira! - basta olhar os versos do rock retrô O Rebanho, que formam contundente painel da fauna noturna de São Paulo.

A regravação de É Preciso Dar um Jeito, meu Amigo - majestoso lado B da obra de Roberto e Erasmo Carlos, lançado pelo Tremendão em 1971 - fecha magistralmente um disco de faixas de alto teor erótico (Pistola na Mão, Quero Ser seu Homem) que revela um Nasi bem mais interessante e multifacetado. Ele vai onde o Ira! não ousa mais pisar agora que o grupo voltou ao mainstream.