Marisa apresenta seus gêmeos bivitelinos em texto escrito por ela para a imprensa
É a própria Marisa Monte (na foto acima, em clique de Murilo Meirelles) que assina o texto de apresentação de seus dois novos discos, Universo ao meu Redor e Infinito Particular, desde 10 de março nas lojas - com tiragens iniciais de 300 mil cópias, cada um. O texto foi enviado aos radialistas e jornalistas da área musical juntamente com os CDs da tiragem promocional (de 1,2 mil cópias de cada um, em embalagem em digipack). No texto, reproduzido a seguir, a cantora caracteriza os álbuns como "gêmeos bivitelinos".
Eis, na íntegra, o elucidativo texto da artista:
"Comecei nos palcos. Toda a minha trajetória se fez através do contato direto com o público, nas apresentações ao vivo. Em quinze anos de carreira gravei muito pouco, por causa das longas turnês que sempre acabavam gerando um espaço muito grande entre os discos.
Cinco discos em quinze anos, sem contar os que produzi e o dos Tribalistas. Em 2001 terminei a turnê de Memórias Crônicas, depois de quase dois anos de estrada, decidida a ficar em casa por um tempo. Aproveitei para produzir o disco do Argemiro e logo a seguir mergulhei no projeto dos Tribalistas com Carlinhos e Arnaldo. Um projeto só de estúdio. Adoro e sempre adorei estúdio. Gravamos todo o disco no Rio, em treze dias. Uma música por dia. Engravidei durante as gravações. O disco saiu no mês do nascimento do meu primeiro filho.
Durante os meses que se seguiram tive a chance de ficar mais tempo em casa. Aproveitei a oportunidade para fazer várias coisas que seriam impossíveis viajando e, sem saber, algumas delas acabaram se tornando o embrião desses discos de agora. Eu sabia, através do meu contato com o samba carioca e, principalmente, pelo convívio com a Velha Guarda da Portela e pelo trabalho de pesquisa para o disco deles em 1999, que havia um repertório incrível, presente apenas na tradição oral, que estava se perdendo pouco a pouco. A curiosidade me fez querer saber mais sobre isso, ampliando o conhecimento para além dos limites da Portela. Comecei a fazer uma série de encontros e entrevistas, orientada por conversas com Monarco, Paulinho da Viola, Dona Yvonne Lara e meu pai, entre outros.
Ouvi compositores, parentes e parceiros de sambistas antigos em busca não somente da obra deles, como também das referências criativas; da gênese do samba feito por eles. E os sambas de Jaime Silva, Argemiro, Dona Yvonne, Casemiro, Moraes e Galvão, alguns com mais de cinquenta anos, uniram-se à produção contemporânea da Adriana, do Paulinho, do Arnaldo, do Carlinhos e minha, no repertório de O Universo ao Meu Redor, esse meu disco focado mais do que no samba, eu diria, na atmosfera do samba, com seus assuntos mais freqüentes - o amor, a natureza, a própria música, a condição humana, o canto dos passarinhos, o quintal, o convívio através da arte...
Para produzir comigo, convidei o Mario Caldato, com quem sempre tive vontade de trabalhar e que ficou responsável por pilotar a personalidade sonora do disco.
Ao mesmo tempo em que eu mantinha a freqüência desses encontros em torno do samba, comecei a digitalizar todo o meu acervo de fitas cassete. O intuito do trabalho era salvar os registros do processo de composição. Quinze anos de músicas sendo feitas. Algumas terminadas, outras abandonadas. Várias dessas que todo mundo conhece, na nascente. Cadernos de rascunhos sonoros. Quase cem fitas, todas ouvidas, decupadas, mapeadas por mim.
Infinito particular.
Essa audição me fez mergulhar em composições de várias épocas, não só com parceiros antigos (Nando, Carlinhos, Arnaldo, Pedro Baby, Dadi), mas também ampliando os horizontes na direção de novos - Seu Jorge, Adriana, Yuka, Leonardo Reis e Rodrigo Campelo. Muitos encontros e, algum tempo depois, eu tinha material para mais um disco. Dessa vez, só de músicas minhas com parceiros e o replay de Alê Siqueira, com quem já havia trabalhado em Tribalistas, para produzir comigo. Além dos arranjos de Eumir, Philip e Donato.
É isso... Se eu tivesse gravado agora apenas um disco e fosse para a estrada, ia demorar um tempão até que eu tivesse a chance de gravar de novo e sei que haveria um hiato entre o que faço e o que mostro. Por isso concebi esses dois discos de repertório inédito. Gerados ao mesmo tempo, como gêmeos bivitelinos, vêm ao mundo agora no mesmo dia. Mas são muito diferentes. Cada um com a sua história. Cada um falando por si. Como duas fotos. Com muitas pessoas e comigo no bolo. Agradeço a todos."
Marisa Monte
Eis, na íntegra, o elucidativo texto da artista:
"Comecei nos palcos. Toda a minha trajetória se fez através do contato direto com o público, nas apresentações ao vivo. Em quinze anos de carreira gravei muito pouco, por causa das longas turnês que sempre acabavam gerando um espaço muito grande entre os discos.
Cinco discos em quinze anos, sem contar os que produzi e o dos Tribalistas. Em 2001 terminei a turnê de Memórias Crônicas, depois de quase dois anos de estrada, decidida a ficar em casa por um tempo. Aproveitei para produzir o disco do Argemiro e logo a seguir mergulhei no projeto dos Tribalistas com Carlinhos e Arnaldo. Um projeto só de estúdio. Adoro e sempre adorei estúdio. Gravamos todo o disco no Rio, em treze dias. Uma música por dia. Engravidei durante as gravações. O disco saiu no mês do nascimento do meu primeiro filho.
Durante os meses que se seguiram tive a chance de ficar mais tempo em casa. Aproveitei a oportunidade para fazer várias coisas que seriam impossíveis viajando e, sem saber, algumas delas acabaram se tornando o embrião desses discos de agora. Eu sabia, através do meu contato com o samba carioca e, principalmente, pelo convívio com a Velha Guarda da Portela e pelo trabalho de pesquisa para o disco deles em 1999, que havia um repertório incrível, presente apenas na tradição oral, que estava se perdendo pouco a pouco. A curiosidade me fez querer saber mais sobre isso, ampliando o conhecimento para além dos limites da Portela. Comecei a fazer uma série de encontros e entrevistas, orientada por conversas com Monarco, Paulinho da Viola, Dona Yvonne Lara e meu pai, entre outros.
Ouvi compositores, parentes e parceiros de sambistas antigos em busca não somente da obra deles, como também das referências criativas; da gênese do samba feito por eles. E os sambas de Jaime Silva, Argemiro, Dona Yvonne, Casemiro, Moraes e Galvão, alguns com mais de cinquenta anos, uniram-se à produção contemporânea da Adriana, do Paulinho, do Arnaldo, do Carlinhos e minha, no repertório de O Universo ao Meu Redor, esse meu disco focado mais do que no samba, eu diria, na atmosfera do samba, com seus assuntos mais freqüentes - o amor, a natureza, a própria música, a condição humana, o canto dos passarinhos, o quintal, o convívio através da arte...
Para produzir comigo, convidei o Mario Caldato, com quem sempre tive vontade de trabalhar e que ficou responsável por pilotar a personalidade sonora do disco.
Ao mesmo tempo em que eu mantinha a freqüência desses encontros em torno do samba, comecei a digitalizar todo o meu acervo de fitas cassete. O intuito do trabalho era salvar os registros do processo de composição. Quinze anos de músicas sendo feitas. Algumas terminadas, outras abandonadas. Várias dessas que todo mundo conhece, na nascente. Cadernos de rascunhos sonoros. Quase cem fitas, todas ouvidas, decupadas, mapeadas por mim.
Infinito particular.
Essa audição me fez mergulhar em composições de várias épocas, não só com parceiros antigos (Nando, Carlinhos, Arnaldo, Pedro Baby, Dadi), mas também ampliando os horizontes na direção de novos - Seu Jorge, Adriana, Yuka, Leonardo Reis e Rodrigo Campelo. Muitos encontros e, algum tempo depois, eu tinha material para mais um disco. Dessa vez, só de músicas minhas com parceiros e o replay de Alê Siqueira, com quem já havia trabalhado em Tribalistas, para produzir comigo. Além dos arranjos de Eumir, Philip e Donato.
É isso... Se eu tivesse gravado agora apenas um disco e fosse para a estrada, ia demorar um tempão até que eu tivesse a chance de gravar de novo e sei que haveria um hiato entre o que faço e o que mostro. Por isso concebi esses dois discos de repertório inédito. Gerados ao mesmo tempo, como gêmeos bivitelinos, vêm ao mundo agora no mesmo dia. Mas são muito diferentes. Cada um com a sua história. Cada um falando por si. Como duas fotos. Com muitas pessoas e comigo no bolo. Agradeço a todos."
Marisa Monte
1 COMENTÁRIOS:
se foi ela mesma que escreveu, parabéns. tem uma clareza que muito jornalista não consegue.
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