Legado de Renato Russo permanece nos corações de sua (imensa) legião urbana

Renato Russo (foto) faria 46 anos nesta segunda-feira, 27 de março, se não tivesse saído de cena em outubro de 1996, vítima de complicações decorrentes de infecção pelo HIV. Para marcar a data, a gravadora EMI está lançando, em parceria com o canal Multishow, o tributo Renato Russo - Uma Celebração. O especial de TV vai ao ar hoje. Gravados ao vivo em show na Fundição Progresso (RJ), em dezembro de 2005, CD e DVD já estão chegando às lojas.

Como o guitarrista Dado Villa-Lobos revelou em recente entrevista à revista Bizz, a disputa judicial pelo controle da obra da Legião Urbana pôs em lados opostos os remanescentes da Legião Urbana (o próprio Dado e o baterista Marcelo Bonfá) e os herdeiros e familiares de Russo. Daí a ausência de Dado e Bonfá no tributo do Multishow. Daí a ausência no roteiro de músicas compostas por Russo com seus legionários parceiros. É lamentável que a briga tenha chegado aos tribunais, embora nem ela empane a aura de Renato Russo.

Tributos costumam ter caráter mais comercial do que afetivo. Mas o que conta, sobretudo, é que tributos são prestados somente a quem deixou uma obra, um legado importante. Renato Russo se enquadra nesse caso. A música que produziu nos anos 80 (e breve parte dos 90) resiste esplendidamente ao tempo. Como a obra de Raul Seixas da década de 70 - para citar outro mítico criador de atitude roqueira que permanece cultuado por diversas gerações.

Grandes compositores dos 80, como Leoni e Herbert Vianna, também foram e são importantes para a cultura pop da década. Mas suas obras não alcançaram a dimensão poética da música de Renato Russo. O artista elevou o padrão das letras do rock brasileiro - encontrando eventual paralelo somente em Cazuza - e tocou corações e mentes da imensa legião urbana que até hoje celebra espontaneamente sua música e seu ídolo sem precisar de discos caça-níqueis. E que continua indo a eventuais tributos mercantilistas somente para fazer coro apaixonado em canções que já são atemporais.

A celebração do Multishow e da EMI é de uma natureza. A do público é de outra. Mas ambas são válidas. Artista atormentado por seus demônios, Renato Russo foi o mártir do rock brasileiro. Seu legado permanece. E vai permanecer por muitas décadas. Outros outubros e tributos virão...