Com requinte, o samba sai do universo puramente nacionalista em obra-prima
Resenha de CD
Título: Universo ao meu Redor
Artista: Marisa Monte
Gravadora: EMI / Phonomotor
Cotação: * * * * *
Universo ao meu Redor, o lindo samba que abre e dá título ao disco de Marisa Monte, poderia ser creditado a um bamba da velha guarda pela nobreza da melodia, o lirismo da letra ("Quantas lágrimas de orvalho na roseira / Todo mundo tem um canto de tristeza") e o violão e o cavaquinho personalíssimos de Paulinho da Viola. Da mesma forma que a faixa que o segue, O Bonde do Dom, também carrega a maestria e a beleza do samba mais tradicional. A novidade é que ambos são assinados por Marisa com seus parceiros Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.
A intimidade do trio tribalista com o samba impõe Universo ao meu Redor - o disco - como uma das obras-primas não somente do gênero, mas de todo o universo da música brasileira. O bonde de Marisa desvia da rota purista que normalmente confina o samba a um trilho excessivamente nacionalista. Tratado com respeito, mas sem excessiva reverência, o samba cantado pela artista é embalado com sutis sons contemporâneos - como os malabarismos bucais de Fernandinho Beat Box, convidado de faixas como Meu Canário, tema de 1950, de autoria de Jayme Silva, celebrizado por O Pato, o sucesso de João Gilberto.
Cantando cada vez melhor, em tons suaves, Marisa combina no repertório sambas novos e antigos, escorada em requintada produção feita pela cantora com Mario Caldato - nome normalmente associado ao universo do hip hop. Há toda uma atmosfera de delicadeza na percussão e nos arranjos. Atmosfera que adquire tom lúdico em Três Letrinhas, surpreendente inédita da fase inicial (1969) do grupo Novos Baianos - uma sobra à altura dos melhores momentos da obra de Moraes Moreira e Galvão.
No bonde da modernidade, Marisa e sua turma trafegam por repertório uniforme que nunca sai dos trilhos. Entre pérola de 1980 de Argemiro Patrocínio (Lágrimas e Tormento, lustrada pelo piano contemporâneo de Daniel Jobim), temas igualmente nobres da lavra do time tribalista (Quatro Paredes, Cantinho Escondido, A Alma e a Matéria, Satisfeito) e inédita de Paulinho da Viola (Para Mais Ninguém, com a elegante grife melódica e poética do autor), o disco transita em linha suave interrompida somente por Statue of Liberty, colaboração de David Byrne nos vocais e na co-autoria. O baticum miscigenado está em sintonia com a tropicalista explosão de cores da capa ilustrada com colagem da artista plástica Beatriz Milhazes.
Com sofisticação e universalidade, Marisa Monte irmana tanto insuspeita valsa de Dona Ivone Lara (Pétalas Esquecidas) quanto insuspeito samba de Adriana Calcanhotto (Vai Saber?). No resumo da ópera, Universo ao meu Redor é disco antológico que cresce a cada audição e confirma Marisa Monte como a artista mais importante e inteligente de sua geração.
Título: Universo ao meu Redor
Artista: Marisa Monte
Gravadora: EMI / Phonomotor
Cotação: * * * * *
Universo ao meu Redor, o lindo samba que abre e dá título ao disco de Marisa Monte, poderia ser creditado a um bamba da velha guarda pela nobreza da melodia, o lirismo da letra ("Quantas lágrimas de orvalho na roseira / Todo mundo tem um canto de tristeza") e o violão e o cavaquinho personalíssimos de Paulinho da Viola. Da mesma forma que a faixa que o segue, O Bonde do Dom, também carrega a maestria e a beleza do samba mais tradicional. A novidade é que ambos são assinados por Marisa com seus parceiros Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.
A intimidade do trio tribalista com o samba impõe Universo ao meu Redor - o disco - como uma das obras-primas não somente do gênero, mas de todo o universo da música brasileira. O bonde de Marisa desvia da rota purista que normalmente confina o samba a um trilho excessivamente nacionalista. Tratado com respeito, mas sem excessiva reverência, o samba cantado pela artista é embalado com sutis sons contemporâneos - como os malabarismos bucais de Fernandinho Beat Box, convidado de faixas como Meu Canário, tema de 1950, de autoria de Jayme Silva, celebrizado por O Pato, o sucesso de João Gilberto.
Cantando cada vez melhor, em tons suaves, Marisa combina no repertório sambas novos e antigos, escorada em requintada produção feita pela cantora com Mario Caldato - nome normalmente associado ao universo do hip hop. Há toda uma atmosfera de delicadeza na percussão e nos arranjos. Atmosfera que adquire tom lúdico em Três Letrinhas, surpreendente inédita da fase inicial (1969) do grupo Novos Baianos - uma sobra à altura dos melhores momentos da obra de Moraes Moreira e Galvão.
No bonde da modernidade, Marisa e sua turma trafegam por repertório uniforme que nunca sai dos trilhos. Entre pérola de 1980 de Argemiro Patrocínio (Lágrimas e Tormento, lustrada pelo piano contemporâneo de Daniel Jobim), temas igualmente nobres da lavra do time tribalista (Quatro Paredes, Cantinho Escondido, A Alma e a Matéria, Satisfeito) e inédita de Paulinho da Viola (Para Mais Ninguém, com a elegante grife melódica e poética do autor), o disco transita em linha suave interrompida somente por Statue of Liberty, colaboração de David Byrne nos vocais e na co-autoria. O baticum miscigenado está em sintonia com a tropicalista explosão de cores da capa ilustrada com colagem da artista plástica Beatriz Milhazes.
Com sofisticação e universalidade, Marisa Monte irmana tanto insuspeita valsa de Dona Ivone Lara (Pétalas Esquecidas) quanto insuspeito samba de Adriana Calcanhotto (Vai Saber?). No resumo da ópera, Universo ao meu Redor é disco antológico que cresce a cada audição e confirma Marisa Monte como a artista mais importante e inteligente de sua geração.
16 COMENTÁRIOS:
Mauro...você não acha que está tendo um surto?? É uma overdose de Marisa Monte, q ninguém aguenta mais. Pq vc não deixa pra fazer comentários no mesmo bloco?
Sabia que tem outros artistas pra vc analisar e pegar no pé?
QUE NADA!! A MARISA FICA 06 ANOS SEM GRAVAR E AINDA RECLAMAM?? CONTINUE FALANDO DELA SIM, PRINCIPALMENTE SE O ASSUNTO ESTIVER RELACIONADO A SAMBA E MARISA MONTE!! VALEU MAURO!
Mauro, suas palavras apenas confirmar o virtuosismo do disco em questão, que é realmente lindo!
Concordo em gênero, número e grau com sua crítica!
ontem, todos meus amigos ouviram o disco à noite aqui em casa, em Ipanema: todos estão chocados!!
Acharam UNIVERSO AO MEU REDOR, um excelente!!!
não consegui encontrar o cd de samba, só o de capa preta. será que não chegou na loja ou que está vendendo mais?
Acho o outro disco 'Infinito particular' tão bom quanto o de samba, bem produzido, com arranjos lindos e a voz de Marisa impressiona a cada gravação! Um disco sofisticado, difícil na primeira 'ouvida', mas agradabilíssimo depois da segunda audição, há 2 ou 3 baladas fortes e 'maduras' ( nada comparadas às do álbum 'memórias...' ou seja, muito melhores e nada piegas) e as parcerias novas renderam lindas canções - destaque para 'O rio' ( emocionante de tão sensível ) a faixa título 'Infinito part...' (Marisa se declara para o ouvinte na abertura do disco, como se nos preparesse a conhece o seu universo, por sinal, muito sincera!). A pop (quase roqueira) 'Pra ser sincero' comprova o virtuosismo vocal da Marisa - q arrasa nos vocais!
Vale a pena, tbm!
Me desculpem, O cd de samba é bom, mas infinito particular é muiiiito ruim. Musicas fraquíssimas e Arranjos redundantes.
Infinito particular é bom pra caralhooooo!!!!!
Infinito Particular é o que povo muderno espera de MM. Musicas pretensamente cults, mas no conteudo vazias, pra enganar trouxas que pensam que entendem do riscado. E as letras? Nem cronicas, nem tribalistas vinham com tantas descartáveis.
E salve Joao donato e Eumir deodato que salvam o cd . Agora Phillip Glass a essa altura do campeonato é dispensável. Larie Anderson já fez bemmm melhor. Salve Universo Particular, esse sim um grande disco.
Pronto, o foco sai de Ana Carolina e agora fica, todo, em Marisa Monte.
O disco de samba pode ser tudo, menos um disco de samba e, por favor, não venham com ofenças. Nem todo mundo tem que gostar do que a mídia empurra goela abaixo.
Cadê o samba em Universo ao meu redor ???? Se ela descobriu tanta coisa boa como disse em todas as entrevistas, por que não gravou fez um disco de intérprete? Brown, Arnaldo e Marisa fazem musiquinha chata e rasteira, será que ninguém vê isso ?
nunca vi um crítico se entregar tanto como um fã radical...marisa monte deve ter gravado um cd genial, tamanha a divulgação e babação q recebeu deste colunista nas últimas semanas.......
Concordo com as últimas duas análises... primeiro: é o crítico que se entrega como fã, diria quase que fanático e segundo: o trio de compositores Brown, Arnaldo e Marisa é muito fraquinho. Fico com o Jornal Folha de São Paulo: para o de sambas *** (Bom) e para o pop ** (Regular).
Infinito Particular tem uma sonoridade cool, sofisticada. Musicalmente é o mais abrangente dos discos de Marisa.
Universo Ao meu Redor é um disco de sambas, com uma linguagem mais contemporânea. Musicalidade que foge dos discos tradicionais de samba.
já ouvi o infinito na casa de uma amiga minha e gostei. lembra o memórias mas é diferente. lembra também o tribalistas mas numa outra onda.
infinito particular é o disco de sonoridade mais equivocada de Marisa Monte. Parece musica lounge, copilação do luciano hulk ou uma bebel gilberto que abandonou a bossa e resolveu fazer um clone da fase pos-tropicalista de caetano e gal. Eu acho totalmente ultrapassado e cafona. MM espertamente privilegiou o som e a mixagem modernosa mas na realidade muito embolada por um motivo obvio: eita musiquinhas fracas!!!!
Marisa Monte achou a parceria perfeita: Adriana Calcanhoto. As duas se julgam a cima do bem e do mal, prepotentes como não deveria ser uma cantora.
É realmente uma pena essas cantoras de hoje, humildade e história futuras Zero
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