À altura de Sérgio Sampaio, 'Cruel' bota na rua seu bloco e sua poesia corrosiva
Resenha de CD
Título: Cruel
Artista: Sérgio Sampaio
Gravadora: Saravá Discos
Cotação: * * * *
Ninguém ousaria dizer que o bloco de Sérgio Sampaio (1947 - 1994) seguiria por ruas marginais depois do estouro nacional obtido em 1972 pela explosiva marcha-rancho Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua, carro-chefe da obra do cantor e compositor capixaba, natural da mesma Cachoeiro de Itapemirim que viu o nascimento de Roberto Carlos. Empurrado cruel e erroneamente para o vácuo reservado aos malditos da MPB, Sampaio teve trajetória errante que Zeca Baleiro procura encerrar com dignidade com a edição de Cruel, o disco que o compositor se preparava para gravar, em 1994, quando morreu sem a chance de retomar uma discografia que, até então, compreendia apenas os álbuns Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua (1973), Tem que Acontecer (1976) e Sinceramente (1982).
Doze anos depois da gestação de Cruel, o selo de Baleiro - Saravá Discos - dá à luz o álbum que acabou tendo caráter póstumo por força do destino. A partir de registros caseiros de voz e violão, deixados por Sampaio em fita dada a Baleiro por iniciativa da família do artista capixaba, seu colega maranhense produziu, finalizou e editou aquele que, em 1994, deveria ter sido o primeiro CD de Sampaio.
Dono de poesia pungente, Sampaio foi enquadrado na marginália, mas Cruel reafirma que ele tinha tudo para ter militado no mainstream. Das 14 músicas, 12 são inéditas. A faixa-título foi gravada por Luiz Melodia, em 1997, no CD 14 Quilates. Já o samba Rosa Púrpura de Cubatão entrou no Balaio do Sampaio, o tributo produzido por Baleiro em 1998. No mais, é tudo novidade. E o impressionante é que a coleção de sambas e canções de Cruel está à altura da obra anterior de Sampaio. Não é uma raspa do tacho, a sobra requentada do almoço. Roda Morta (Reflexões de um Executivo) exemplifica a mordacidade atemporal de Sampaio (no caso específico, com letra de seu parceiro Sérgio Natureza). "O triste nisso tudo é tudo isso / Quer dizer tirando nada / Só me resta o compromisso / Com os dentes cariados da alegria / Com o desgosto e a agonia / Da manada dos normais", alfinetam os versos iniciais. Outro destaque entre as canções é Pavio Curto, bela canção pontuada pelo violoncelo de Lui Coimbra.
A música de Sampaio conserva o frescor e continua saudavelmente corrosiva. Basta ouvir os sambas Polícia Bandido Cachorro Dentista (de versos atualíssimos) e Rosa Púrpura de Cubatão para comprovar que seu bloco não poderia ter seguido os desvios impostos pela indústria da música aos inconformados - como este inquieto e saudoso capixaba.
Título: Cruel
Artista: Sérgio Sampaio
Gravadora: Saravá Discos
Cotação: * * * *
Ninguém ousaria dizer que o bloco de Sérgio Sampaio (1947 - 1994) seguiria por ruas marginais depois do estouro nacional obtido em 1972 pela explosiva marcha-rancho Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua, carro-chefe da obra do cantor e compositor capixaba, natural da mesma Cachoeiro de Itapemirim que viu o nascimento de Roberto Carlos. Empurrado cruel e erroneamente para o vácuo reservado aos malditos da MPB, Sampaio teve trajetória errante que Zeca Baleiro procura encerrar com dignidade com a edição de Cruel, o disco que o compositor se preparava para gravar, em 1994, quando morreu sem a chance de retomar uma discografia que, até então, compreendia apenas os álbuns Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua (1973), Tem que Acontecer (1976) e Sinceramente (1982).
Doze anos depois da gestação de Cruel, o selo de Baleiro - Saravá Discos - dá à luz o álbum que acabou tendo caráter póstumo por força do destino. A partir de registros caseiros de voz e violão, deixados por Sampaio em fita dada a Baleiro por iniciativa da família do artista capixaba, seu colega maranhense produziu, finalizou e editou aquele que, em 1994, deveria ter sido o primeiro CD de Sampaio.
Dono de poesia pungente, Sampaio foi enquadrado na marginália, mas Cruel reafirma que ele tinha tudo para ter militado no mainstream. Das 14 músicas, 12 são inéditas. A faixa-título foi gravada por Luiz Melodia, em 1997, no CD 14 Quilates. Já o samba Rosa Púrpura de Cubatão entrou no Balaio do Sampaio, o tributo produzido por Baleiro em 1998. No mais, é tudo novidade. E o impressionante é que a coleção de sambas e canções de Cruel está à altura da obra anterior de Sampaio. Não é uma raspa do tacho, a sobra requentada do almoço. Roda Morta (Reflexões de um Executivo) exemplifica a mordacidade atemporal de Sampaio (no caso específico, com letra de seu parceiro Sérgio Natureza). "O triste nisso tudo é tudo isso / Quer dizer tirando nada / Só me resta o compromisso / Com os dentes cariados da alegria / Com o desgosto e a agonia / Da manada dos normais", alfinetam os versos iniciais. Outro destaque entre as canções é Pavio Curto, bela canção pontuada pelo violoncelo de Lui Coimbra.
A música de Sampaio conserva o frescor e continua saudavelmente corrosiva. Basta ouvir os sambas Polícia Bandido Cachorro Dentista (de versos atualíssimos) e Rosa Púrpura de Cubatão para comprovar que seu bloco não poderia ter seguido os desvios impostos pela indústria da música aos inconformados - como este inquieto e saudoso capixaba.
9 COMENTÁRIOS:
que tal alguem reunir as musicas que sergio sampaio gravou no inicio de carreira em compactos, discos de festivais e projetos, que ficaram perdidas em varias gravadoras (som livre, cbs poligram, etc) e editar um cd com estas faixas raras?
sao 10 ou 12 gravacoes, como meu pobre blues, uma musica ironica sobre seu conterraneo que se vendeu a maquina do "sucesso".
Mauro, Rosa Púrpura de Cubatão não foi gravada no Balaio do Sampaio? Abraço!
Tem razão, Zema. Confiei no texto escrito pelo próprio Baleiro para apresentar o disco. Mas, de fato, são 12 inéditas, e não 13. Obrigado!
Qual teu e-mail? Tens msn? Abraço!
Ducaraleo! da gosto de comprar esse. eu tenho o piratão voz e violão
Escandaloso de Bom!
Zeca Baleiro está de parabéns por nos presentear com essas pérolas de Sérgio Sampaio. Um disco à altura de um artista autêntico e sensível.
Tenho as gravações originais, somente com voz e violão onde já dá pra sentir que o que seria o primeiro cd da vida do capixaba, com certeza, não deixaria nada a desejar.
O Cruel, enfim, chegou, com 12 anos de atraso mas brindando todo o talento do artista.
A cantora Patrícia Ahmaral canta Eu quero botar meu bloco na Rua maravilhosamente bem em seu CD AH! produzido pelo Zeca Baleiro.
Só uma correção. O nome correto da musica não é "Pavio Curto" e sim "Pavio do destino". Por favor.
Resta saber quando serão reeditados os outros dois LPs que ainda encontram-se no aguardo de algum mecenas.
PS, mudando de pau para cacete, onde anda o VitalFrias e seus fantásticos discos?
Postar um comentário
<< Home