Cobras se aninham na receita do samba
Resenha de CD
Título: Ninho de Cobras
Artista: Vários
Gravadora: Sony & BMG
Cotação: * * *
Nos anos 90, a gravadora Universal criou bem-sucedida série intitulada Casa de Samba, na qual reunia inusitadas duplas de cantores em regravações ao vivo de clássicos do gênero. Exceto pela formação das duplas, a fórmula é a mesma usada neste CD ora lançado pela Sony & BMG. Sob a batuta afetiva do produtor José Milton, cobras como Monarco (Coração em Desalinho), Moacyr Luz (Saudades da Guanabara) e Dona Ivone Lara (Acreditar) se aninham na receita do samba gravado ao vivo em estúdio e cantam sozinhos sucessos de lavra própria ou alheia.
Embora as gravações supra-citadas sejam previsíveis, o resultado é bom. Por conta de suas boas relações no meio musical, José Milton recrutou alguns dos melhores arranjadores de samba do momento(Ivan Paulo, Paulão Sete Cordas, Mauro Diniz, Maurício Carrilho e Cristóvão Bastos, estranho no ninho, onde nota-se a ausência de Rildo Hora) e convocou um time de intérpretes de respeito. Da imponência vocal de Jamelão (que abre o CD com o samba Esta Melodia) à descontração de Zeca Pagodinho (que revive um samba de Chico Buarque, Quem te Viu Quem te Vê, sem sair de seu estilo e sem querer impressionar), passando pela afinação absoluta de Emílio Santiago em Pressentimento, a seleção de bambas faz jus ao título.
Entre os intérpretes, a única estranha no ninho do samba é Nana Caymmi - mesmo assim à vontade na regravação de Quantas Lágrimas, clássico da Velha Guarda da Portela que tem a melancolia ideal para o canto visceral de Nana. Se a cantora até surpreende, Roberto Silva confirma o habitual suingue em Alegria, jóia de Assis Valente.
Samba que lançou Zeca Pagodinho no mercado fonográfico, em disco de Beth Carvalho, Camarão que Dorme a Onda Leva volta à tona pela alegria contagiante de seu co-autor, Arlindo Cruz. Também é uma delícia ouvir Mart'nália entrar na Casa de Bamba inaugurada por seu pai, Martinho da Vila, em fins dos anos 60.
Nem todos ainda têm o mesmo veneno. O cansaço de Almir Guineto transparece em Pedi ao Céu. Da mesma forma que o compositor Paulo César Pinheiro, de quem não se pode exigir afinação de um cantor, mostra em A Paixão e a Jura que já esteve em melhor forma vocal.
A capa é simples, mas graciosa por conta da ilustração que remete tanto a um par de cobras quanto aos pés de um sambista com o típico figurino de uma gafieira. Ou de um pagode - como queira.
Título: Ninho de Cobras
Artista: Vários
Gravadora: Sony & BMG
Cotação: * * *
Nos anos 90, a gravadora Universal criou bem-sucedida série intitulada Casa de Samba, na qual reunia inusitadas duplas de cantores em regravações ao vivo de clássicos do gênero. Exceto pela formação das duplas, a fórmula é a mesma usada neste CD ora lançado pela Sony & BMG. Sob a batuta afetiva do produtor José Milton, cobras como Monarco (Coração em Desalinho), Moacyr Luz (Saudades da Guanabara) e Dona Ivone Lara (Acreditar) se aninham na receita do samba gravado ao vivo em estúdio e cantam sozinhos sucessos de lavra própria ou alheia.
Embora as gravações supra-citadas sejam previsíveis, o resultado é bom. Por conta de suas boas relações no meio musical, José Milton recrutou alguns dos melhores arranjadores de samba do momento(Ivan Paulo, Paulão Sete Cordas, Mauro Diniz, Maurício Carrilho e Cristóvão Bastos, estranho no ninho, onde nota-se a ausência de Rildo Hora) e convocou um time de intérpretes de respeito. Da imponência vocal de Jamelão (que abre o CD com o samba Esta Melodia) à descontração de Zeca Pagodinho (que revive um samba de Chico Buarque, Quem te Viu Quem te Vê, sem sair de seu estilo e sem querer impressionar), passando pela afinação absoluta de Emílio Santiago em Pressentimento, a seleção de bambas faz jus ao título.
Entre os intérpretes, a única estranha no ninho do samba é Nana Caymmi - mesmo assim à vontade na regravação de Quantas Lágrimas, clássico da Velha Guarda da Portela que tem a melancolia ideal para o canto visceral de Nana. Se a cantora até surpreende, Roberto Silva confirma o habitual suingue em Alegria, jóia de Assis Valente.
Samba que lançou Zeca Pagodinho no mercado fonográfico, em disco de Beth Carvalho, Camarão que Dorme a Onda Leva volta à tona pela alegria contagiante de seu co-autor, Arlindo Cruz. Também é uma delícia ouvir Mart'nália entrar na Casa de Bamba inaugurada por seu pai, Martinho da Vila, em fins dos anos 60.
Nem todos ainda têm o mesmo veneno. O cansaço de Almir Guineto transparece em Pedi ao Céu. Da mesma forma que o compositor Paulo César Pinheiro, de quem não se pode exigir afinação de um cantor, mostra em A Paixão e a Jura que já esteve em melhor forma vocal.
A capa é simples, mas graciosa por conta da ilustração que remete tanto a um par de cobras quanto aos pés de um sambista com o típico figurino de uma gafieira. Ou de um pagode - como queira.
2 COMENTÁRIOS:
deviam ter aproveitado a presença desses cobras para mostrar sambas inéditos e não ficar remoendo as músicas que a gente já tem em outros discos. isso é preguiça!
Mauro, Cristóvão Bastos não é nenhum estranho no ninho do samba. Já participou de inúmeros discos de Paulinho da Viola e de outros bambas, como a cantora Amélia Rabello (irmã de Raphael e Luciana Rabello). Me lembro de dois discos de samba dos quais gosto muito e nos quais Cristóvão esteve envolvido como arranjos e como pianista: Parceria, lançado por João Nogueira e Paulo César Pinheiro nos anos 1990, e o primeiro disco do grande Élton Medeiros, de 1973, um clássico do samba - lá se vão mais de trinta anos! Neste disco de Elton, Cristóvão toca piano e violão(!) em todas as faixas e faz o arranjo de duas delas, inclusive a melhor gravação do LP, "Avenida Fechada".
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