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Quarta-feira, Novembro 30, 2005

Aldir Blanc desfia rosário de pérolas de fossa em seu lírico primeiro disco solo

Resenha de CD
Título: Vida Noturna
Artista: Aldir Blanc
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *

Em seu primeiro disco solo (houve um dividido com Maurício Tapajós nos anos 80 e outro de duetos nos 90), Vida Noturna, Aldir Blanc se revela bom cantor, de voz bem modulada e timbre sereno. Como intérprete doído, daqueles de fundo de boate, hábeis ao remoer paixões sombreadas pela melancolia ou pela desilusão, Blanc desfia suas dores de amores em repertório formado majoritariamente por inéditas de tom lírico, típico de grandes poetas como ele. Entre as regravações, há duas parcerias com João Bosco dos anos 70. A faixa-título (lançada no disco Galos de Briga, de 1976) e o samba Me Dá a Penúltima (do LP Tiro de Misericórdia, de 1977) contam com a adesão do parceiro na voz e no violão, ratificando a retomada dos laços fraternos e profissionais.

Vida Noturna é um rosário de pérolas contadas por um amante dos bares e da madrugada. "Todo boêmio é feliz porque, quanto mais triste, mais se ilude", conceitua Blanc em verso de Me Dá a Penúltima. É nesse clima de boate - de elegante e econômico instrumental urdido pelo piano de Cristóvão Bastos e pelo violão de João Lyra - que Blanc tece suas teias em versos sempre milimetricamente construídos. Em Dry (parceria com Moacyr Luz), ele até recebe um Chico Buarque de frente e incorpora a mulher abandonada pelo amante. "Eu me sentia um cinzeiro / Repleto das pontas que você deixava / E que ironia essa imagem: / A guimba apagando é quando mais queimava...", resume de forma lapidar. Em Lupicínica, parceria com Jayme Vignoli, Blanc reverencia o compositor gaúcho que inspirou o genial título da música, cujo foco é a paixão por uma enfermeira. "Aquela mulher que dosava o soro nas veias dos agonizantes / Não teve sequer um calmante pra dor sem remédio que atinge os amantes", sofre o poeta.

E é assim - com seu peculiar romantismo crepuscular - que Aldir canta, conta e lembra seus amores noturnos. Quase sempre com um trago amargo na boca, como em Velhas Ruas (em que assina letra e música, evocando melancolicamente amor vivido na Vila Isabel idealizada de sua infância) e como em Flores de Lapela (parceria com Maurício Tapajós), pungente e sintética crônica sobre solidão e mágoas provocadas pela separação. Espaço para a felicidade solar há apenas em Recreio das Meninas II (outra parceria com Moacyr Luz em que entra um acordeom tocado por Cristóvão Bastos). Na faixa, a ida ao samba, cenário de possível nova paixão, é o remédio infalível para a dor do amor. A exceção confirma a regra: Vida Noturna é disco de fossa, de madrugada, com direito ao violão estupendo de Hélio Delmiro em Constelação Maior (parceria com Delmiro) e ao (não menos virtuoso) de Guinga em Cordas.

Como resume Heloisa Seixas em texto feito para o encarte, é "puro Aldir Blanc, sem gelo". E - acrescenta o colunista - sem direito à ressaca musical, pois a poética obra de Aldir é refinada como o melhor uísque escocês.

5 COMENTÁRIOS:

Julio said...

Que beleza, estou louco para ouvir.

08:32  
Gilberto said...

Aldir é poeta urbano dos mais brilhantes do Brasil, poucos escrevem como ele

16:32  
Bruno Ribeiro said...

É coisa de gênio. Esperei 10 anos por esse momento.

11:15  
Isadora Pontes Gallas said...

esse título genial "lupcinica" já existe a mais de 10 anos, na canção interpretada por Ednarno. e de autoria de Augusto Pontes e Petrúcio Maia.

a respeito de "recreio das meninas II" adorei a canção e tb a iniciativa de usar o "II", o que deveria ter sido feito com "lupcinica" já que o título é realmente genial , asiim como sua música sobre a enfermeira.

viva o aldir blanc

15:05  
Isadora Pontes Gallas said...

esse título genial "lupcinica" já existe a mais de 10 anos, na canção interpretada por Ednarno. e de autoria de Augusto Pontes e Petrúcio Maia.

a respeito de "recreio das meninas II" adorei a canção e tb a iniciativa de usar o "II", o que deveria ter sido feito com "lupcinica" já que o título é realmente genial , asiim como sua música sobre a enfermeira.

viva o aldir blanc

15:06  

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