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Sexta-feira, Outubro 28, 2005

Embrião da Legião Urbana ganha nova vida no 12º álbum do Capital Inicial

Em 1980, Renato Russo - então com 20 anos e em começo de carreira - destilou todo seu veneno antimonotonia ao escrever suas primeiras letras para encorpar o repertório de seu primeiro grupo, o mitológico Aborto Elétrico, em atividade em Brasília entre 1978 e 1982. Russo escreveu versos sobre política e drogas, mas sobretudo sobre o cotidiano entediado e angustiado da juventude que habitava a Capital do País naquela época cinzenta de ditatura e repressão policial. Com o fim do Aborto Elétrico, seu espólio foi dividido entre as duas bandas que germinaram a partir da dissolução do pioneiro grupo punk: a Legião Urbana (que projetaria Russo em escala nacional a partir de 1985) e o Capital Inicial, integrado pelos irmãos Fê e Flávio Lemos, respectivamente baterista e baixista do Aborto, o embrião dessas duas importantes bandas surgidas no boom do rock nacional dos anos 80.

Legião e Capital fizeram história e sucesso com várias músicas do Aborto (Geração Coca-Cola, Que País É Esse?, Música Urbana, Veraneio Vascaína), mas outras permaneceram inéditas, guardadas em fitas cassetes empoeiradas. Pois é este material raro que o Capital Inicial (na foto acima, clicado por Marcelo Rossi) tirou do baú - com o aval legal de Maria do Carmo Manfredini, mãe de Renato Russo - para gravar em seu 12º disco, MTV Especial Capital Inicial - Aborto Elétrico.

O projeto era antigo, mas somente este ano foi concretizado. "O Fê e o Flávio estavam relutantes. Tinham medo de que as músicas pudessem soar datadas e de que O capital fosse tachado de oportunista. Afinal, o Aborto Elétrico já estava no reino do imaginário. Gravar seu repertório seria desmistificá-lo", pondera Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital.

Dinho não fez parte do Aborto Elétrico, mas conviveu intimamente com a toda a turma da colina. Por ter namorado Helena, irmã de Fê e Flávio, assistiu a vários ensaios do Aborto e viu quase todos os shows. Daí sua vontade de regravar esse cancioneiro, fiel ao andamento dado às músicas por Renato Russo nas gravações caseiras que lhe serviram de guia. "Não tem um vocal meu no disco que não reproduza a forma do Renato cantar as melodias. Mas não o imitei. Durante anos, fui atormentado pelo fantasma do Renato e, depois que achei meu jeito e meu caminho, não ia imitá-lo", ressalta Dinho.

Das 18 músicas do CD, nove nunca haviam sido registradas em disco. São pérolas como Submissa, Love Song One, Submissa, Helicópteros no Céu, Construção Civil, Heroína e Despertar dos Mortos. "É um grande equívoco achar que as melhores músicas do Aborto já haviam sido gravadas", garante Flávio Lemos. "Love Song One e Construção Civil sempre estiveram entre as minhas preferidas. E Helicópteros no Céu era a favorita do André Müller, da Plebe Rude", afirma Dinho. Quando o disco estava praticamente pronto, Fê e Flávio ainda encontraram outra música, Baader-Meinhof Blues Nº1, tema quase homônimo (mas diferente) do registrado pela Legião Urbana em seu primeiro disco.

Voltar no tempo e no ritmo do Aborto foi tarefa árdua para Dinho e cia. "Pensei que o mais difícil fosse recuperar as canções, mas foi fácil, na verdade", conta Dinho, revelando que a mãe de Renato Russo já havia sido avisada pelo falecido pai do artista, Renato Manfredini, de que Fê e Flávio Lemos tinham prioridade na cessão do repertório do Aborto Elétrico por terem feito parte da banda. "Na verdade, o processo mais difícil foi revitalizar as músicas, foi interpretá-las. Não é o Aborto Elétrico cantando. É o Capital Inicial interpretando o repertório do Aborto Elétrico", ressalta Dinho.

Todo o processo de recuperação do espírito punk do Aborto foi documentado no DVD que chega às lojas no fim de novembro. Filmado em Brasília, o vídeo intercala takes das sessões de estúdio com entrevistas com bandas (Paralamas do Sucesso, Plebe Rude) e punks que viveram na Capital na época do Aborto Elétrico. Um dos depoimentos é o de Cris Brenner, pioneira punk local, hoje respeitável médica. São cenas de uma época que não volta mais e que se perdeu ainda nos anos 80, com a profissionalização das bandas. "Aquela união que havia no punk era somente da gente, que tinha 18 anos e convivia naquele cenário específico. Depois, quando as bandas começaram a gravar, pintou rivalidade e o Renato foi se enfurnando cada vez mais no mundo dele", recorda Dinho.

O documentário tem 2 horas e 20 minutos. Para quem não aguentar esperar até o fim de novembro, a MTV exibe dia 6 versão condensada do especial, que mostra como a semente do Aborto Elétrico ainda dá frutos 25 anos depois de seu primeiro show.

4 COMENTÁRIOS:

Vanessa said...

bem que podiam ter lançado cd e dvd num único produto.

17:52  
Vicente Martins said...

Não curto muito o Capital, não, acho que ele se perdeu, mas este disco me parece interessante.

08:42  
Prikinha said...

Muito bom!!!!
Amo Capital e reconheço todo o talento do Renato. Esse Cd vai ser uma bênção, dar uma sacudida nessa onda onde tudo agroa é rock. Parabéns ao Capital pela iniciativa e que venha o CD!

08:57  
Luciana_capitalforever said...

Somente o Capital pra trazer de volta o AE...parabéns ao Capital eu amo eles...acho que são a melhor banda de rock do Brasil atualmente com certeza por toda a origem que eles têm...esse trabalho de resgatar o Aborto e a Legião é magnifíco e esse cd deve estar um espetáculo...parabéns e mtoooo sucesso..VIDA LONGA AO ROCK...VIDA LONGA AO CAPITAL!!!

11:53  

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