Capital acerta ao abortar sua veia pop e voltar ao início punk em CD histórico
Resenha de disco
Título: MTV Especial Capital Inicial - Aborto Elétrico
Artista: Capital Inicial
Gravadora: Sony & BMG
Cotação: * * * *
De origem punk, o Capital Inicial sempre adotou atitude e som pop desde que começou a gravar em meados dos anos 80. Sim, havia uma ou outra faixa em discos como Capital Inicial (1986) e Todos os Lados (1989) que denunciava a fúria do embrião do quarteto: o lendário Aborto Elétrico, o primeiro grupo punk de Brasília, cercado por aura mitológica por ter sido a primeira banda de Renato Russo, hoje também um mito. Mas, em essência, Dinho Ouro Preto assumiu pose de ídolo pop, com direito a fotos sensuais em revistas femininas. Por isso mesmo, o CD MTV Especial Capital Inicial - Aborto Elétrico surpreeende. Muito. E positivamente. O Capital voltou ao seu início punk com garra, sujeira e corajosa determinação de fazer jus à história do grupo que lhe originou. A coragem é do quarteto, mas o som sujo parece mérito de Rafael Ramos, em um de seus grandes momentos como produtor.
Há quem vá falar em oportunismo, em exploração do culto a Renato Russo. É possível que a MTV e a gravadora Sony & BMG estejam mesmo sonhando com milhares de cópias vendidas por conta dos órfãos do legionário. É possível que o próprio grupo esteja projetando (ou ansiando por) um estouro comercial semelhante ao seu Acústico MTV, editado em 2000. Mas o fato é que o CD soa honesto - muito honesto, aliás. Parece disco saído de algum forno do início dos anos 80, quando a ideologia punk fervilhava no Brasil, especialmente em Brasília (terra do Aborto Elétrico) e em São Paulo. E discos de alma genuinamente punk não costumam ser campeões nas paradas, seja no Brasil ou nos Estados Unidos... De mais a mais, os irmãos Fê (bateria) e Flávio Lemos (baixo) foram integrantes do Aborto. Fê, inclusive, foi um dos fundadores do trio em 1978, ao lado de Renato e de André Pretórius, guitarrista que saiu em 1980, ano em que entrou Flávio. Resumo da ópera: o tributo é legítimo.
O caráter documental já bastaria para validar o projeto. São nove músicas do Aborto Elétrico que nunca haviam sido registradas em disco. Três (Anúncio de Refrigerante, Construção Civil, Love Song One) até circulavam na rede em arquivos nem sempre completos. As demais permaneciam esquecidas no baú em fitas precárias que se deterioravam ano a ano. São músicas que flagram um Renato Russo em estágio inicial como compositor, mas nem por isso menos interessante. Sem o tom progressivamente messiânico que adotaria em sua obra na Legião Urbana, Russo escreveu para o Aborto Elétrico versos diretos sobre temas como drogas, guerras, política e - sobretudo - o cotidiano entediado dos jovens brasilienses na virada dos anos 70 para os 80. "Sentado embaixo do bloco / Sem ter o que fazer / ... / Matando o tempo, procurando uma briga /... / Com muita coisa na cabeça, mas no bolso nada", relata Russo na supra-citada Anúncio de Refrigerante, única faixa mais lenta de um disco de alta voltagem rítmica.
"Eu não quero mais viver / Não sinto nada / Não tenho nada / Eu quero ser um vegetal", canta Dinho em Heroína, com vocais desarrumados típicos de cantores de bandas punks. Heroína é um dos petardos do espólio do Aborto Elétrico que tinham sumido na poeira da história. Há outros (Helicópteros no Céu, Submissa, Baader-Meinhof Blues Nº 1, Despertar dos Mortos) à altura do mito construído em torno do Aborto, ainda que sem o acabamento perfeito de músicas como Veraneio Vascaína, Que País É Esse?, Música Urbana e Geração Coca-Cola - todas já gravadas pela Legião Urbana ou pelo próprio Capital Inicial, mas aqui recriadas com fidelidade ao seu universo original. Enfim, um disco de alto valor documental e obrigatório. Faltava um pedaço da história do rock nacional. Coube ao Capital recontá-lo em grande estilo.
Título: MTV Especial Capital Inicial - Aborto Elétrico
Artista: Capital Inicial
Gravadora: Sony & BMG
Cotação: * * * *
De origem punk, o Capital Inicial sempre adotou atitude e som pop desde que começou a gravar em meados dos anos 80. Sim, havia uma ou outra faixa em discos como Capital Inicial (1986) e Todos os Lados (1989) que denunciava a fúria do embrião do quarteto: o lendário Aborto Elétrico, o primeiro grupo punk de Brasília, cercado por aura mitológica por ter sido a primeira banda de Renato Russo, hoje também um mito. Mas, em essência, Dinho Ouro Preto assumiu pose de ídolo pop, com direito a fotos sensuais em revistas femininas. Por isso mesmo, o CD MTV Especial Capital Inicial - Aborto Elétrico surpreeende. Muito. E positivamente. O Capital voltou ao seu início punk com garra, sujeira e corajosa determinação de fazer jus à história do grupo que lhe originou. A coragem é do quarteto, mas o som sujo parece mérito de Rafael Ramos, em um de seus grandes momentos como produtor.
Há quem vá falar em oportunismo, em exploração do culto a Renato Russo. É possível que a MTV e a gravadora Sony & BMG estejam mesmo sonhando com milhares de cópias vendidas por conta dos órfãos do legionário. É possível que o próprio grupo esteja projetando (ou ansiando por) um estouro comercial semelhante ao seu Acústico MTV, editado em 2000. Mas o fato é que o CD soa honesto - muito honesto, aliás. Parece disco saído de algum forno do início dos anos 80, quando a ideologia punk fervilhava no Brasil, especialmente em Brasília (terra do Aborto Elétrico) e em São Paulo. E discos de alma genuinamente punk não costumam ser campeões nas paradas, seja no Brasil ou nos Estados Unidos... De mais a mais, os irmãos Fê (bateria) e Flávio Lemos (baixo) foram integrantes do Aborto. Fê, inclusive, foi um dos fundadores do trio em 1978, ao lado de Renato e de André Pretórius, guitarrista que saiu em 1980, ano em que entrou Flávio. Resumo da ópera: o tributo é legítimo.
O caráter documental já bastaria para validar o projeto. São nove músicas do Aborto Elétrico que nunca haviam sido registradas em disco. Três (Anúncio de Refrigerante, Construção Civil, Love Song One) até circulavam na rede em arquivos nem sempre completos. As demais permaneciam esquecidas no baú em fitas precárias que se deterioravam ano a ano. São músicas que flagram um Renato Russo em estágio inicial como compositor, mas nem por isso menos interessante. Sem o tom progressivamente messiânico que adotaria em sua obra na Legião Urbana, Russo escreveu para o Aborto Elétrico versos diretos sobre temas como drogas, guerras, política e - sobretudo - o cotidiano entediado dos jovens brasilienses na virada dos anos 70 para os 80. "Sentado embaixo do bloco / Sem ter o que fazer / ... / Matando o tempo, procurando uma briga /... / Com muita coisa na cabeça, mas no bolso nada", relata Russo na supra-citada Anúncio de Refrigerante, única faixa mais lenta de um disco de alta voltagem rítmica.
"Eu não quero mais viver / Não sinto nada / Não tenho nada / Eu quero ser um vegetal", canta Dinho em Heroína, com vocais desarrumados típicos de cantores de bandas punks. Heroína é um dos petardos do espólio do Aborto Elétrico que tinham sumido na poeira da história. Há outros (Helicópteros no Céu, Submissa, Baader-Meinhof Blues Nº 1, Despertar dos Mortos) à altura do mito construído em torno do Aborto, ainda que sem o acabamento perfeito de músicas como Veraneio Vascaína, Que País É Esse?, Música Urbana e Geração Coca-Cola - todas já gravadas pela Legião Urbana ou pelo próprio Capital Inicial, mas aqui recriadas com fidelidade ao seu universo original. Enfim, um disco de alto valor documental e obrigatório. Faltava um pedaço da história do rock nacional. Coube ao Capital recontá-lo em grande estilo.
7 COMENTÁRIOS:
o disco pode ser histórico, mas, se as músicas eram boas, porque não foram gravadas pela Legião ou pelo próprio Capital?
até que enfim um grupo tem coragem de soar punk sem medo de vender pouco disco.
GRANDE CAPITAL! TENHO 20 ANOS, TINHA VONTADE DE SABER MAIS DO ABORTO. VALEU!!
me identifico com o punk e esse disco pode esclarecer muito do que ouvimos na Legião e no próprio capital.
CAPITAL MOSTROU EM ROSAS E VINHO TINTO E EM GIGANTE QUE ESTÁ A FIM DE FAZER DISCOS COM RESPEITO A SUA HISTORIA NO ROCK NACIONAL.
ta muito massa essa reportagem!!!
parabens mesmo!!!
capital é muiiito bom, teem que continuarem a fazer matérias sobre eles!!!
ta muito massa essa reportagem!!!
parabens mesmo!!!
capital é muiiito bom, teem que continuarem a fazer matérias sobre eles!!!
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