Maria Rita já não sente o peso de Elis, mas seu 'Segundo' é inferior ao primeiro pelo caráter oscilante do repertório
Resenha de disco:
Título: Segundo
Artista: Maria Rita
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *
O peso de Elis Regina parece já não pesar sobre os ombros e a voz de Maria Rita. Segundo, o novo disco da filha da Pimentinha, é mais leve do que o primeiro. Mas também inferior. A leveza está na suavidade do canto da intérprete. Rita já soa menos sisuda, com menor força dramática - o que pode ser visto como um erro ou como um acerto, dependendo do sentimento de quem escuta o CD. Mas a incontestável (??) inferioridade de Segundo em relação ao primeiro está no repertório, mais irregular e com menor número de grandes canções. A melhor delas dentre as inéditas é Despedida, surpreendente ijexá do hermano Marcelo Camelo. A idéia de fazer a percussão a partir de uma batucada no chão do estúdio Toca do Bandido resulta envolvente e redime a cantora de ter regravado Casa Pré-Fabricada (do segundo disco do Los Hermanos) sem o toque sedutor do registro de Roberta Sá.
Camelo confirma a inspiração, mas já não é a bola da vez. Em Segundo, o posto está com o carioca Rodrigo Maranhão, autor de três das 13 faixas do CD. Maranhão também mostra talento autoral na graciosa toada Caminho das Águas, no samba Recado e na hipnótica canção apropriadamente intitulada Mantra - a faixa escondida do disco, composta por ele com Pedro Luís.
O peso de Elis já não oprime Maria Rita, mas é nítida a herança genética na divisão e nos maneirismos com que ela defende os sambas Recado e Conta Outra (do paulista Eduardo Tedeschi) - o segundo em empolgante gravação ao vivo.
Segundo tem produção dividida entre Lenine e a própria Maria Rita. Mas o disco não tem a cara do artista pernambucano. Tivesse tido controle total sobre o processo criativo, Lenine talvez tivesse posto uma camada percussiva na Ciranda do Mundo (tema de Eduardo Krieger, já gravado por Pedro Luís e a Parede). Nesta faixa, o conceito musical do disco - estruturado num trio de piano-baixo-bateria - soa limitador. Mas é o caráter oscilante do repertório o vilão de Segundo. Mal-Intento, por exemplo, é canção menor do uruguaio Jorge Drexler e parece ter entrado na seleção final apenas para fortalecer as vendas do CD na América Latina. A abolerada Sem Aviso, de Fred Martins e Francisco Bosco, também está aquém da produção habitual dos autores (Bosco é letrista que tem mostrado evolução).
Há, claro, grandes momentos quando há grandes músicas - item essencial para grandes cantoras como Maria Rita. Sobre Todas as Coisas - composta por Chico Buarque e Edu Lobo em 1983 para a trilha do balé O Grande Circo Místico - é uma delas e soa arrasadora na leitura voz-e-piano de Rita, que chega a rivalizar com os registros de Zizi Possi (o melhor), Gilberto Gil (o original) e Maria Bethânia (o mais visceral). Hit do grupo O Rappa, A Minha Alma (A Paz que Eu Não Quero) também soa forte na voz da cantora em gravação mais melódica que valoriza a munição certeira dos versos de Marcelo Yuka.
Enfim, Segundo é bom e confirma que Maria Rita tem futuro certo na música brasileira. Mas que não arrebata como o álbum de estréia da cantora, lá isso não arrebata.
18 COMENTÁRIOS:
Mauro, acho que você não deixa claro na sua crítica se prefere a Maria Rita leve ou pesada.
Vou comprar o disco hoje, mas acho bobagem ficar comparando o segundo com o primeiro. cada disco tem sua história, seu momento.
Mauro, gostei do disco de Maria Rita. Não acho que seja inferior, no mínimo igual, e ainda vai dar o que falar...quanto mais a gente ouve mais a gente gosta. Agora, o mais importante é que os críticos já perceberam que Maria Rita é outra entidade, outra cantora. Elis teve sua carreira, seu sucesso, é maravilhosa. Maria Rita só tem 3 anos como profissional da música e muita coisa boa ainda vai nos apresentar,tenha certeza disso. Parabéns pelo blog.
O problema é que o primeiro cd tinha muita música já conhecida, era mais fácil assimilar...agora Maria Rita está trazendo muita gente nova que ninguém ainda conhece bem, e isso é muito positivo. Gente jovem e de qualidade. Mauro, fale mais s/essa moçada, queremos conhecê-los melhor.
Mauro, não entendo a má vontade que a crítica tem com o Jorge Drexler. Gosto das músicas que ele faz. Será por causa da lingua espanhola, que nunca é bem recebida por aqui? Gostei do blog.
Acredito que não podemos comparar um disco com o outro. Como disseram, cada um tem sua história e seu momento. Eu, particularmente, prefiro ela soltando a voz, com força. Mas tenho certeza que o Segundo está tão bom quanto o primeiro, qualidade e talento é o que não falta.
Eu também acho que não dá pra comparar um disco com o outro, mas... esse é muuuuito melhor do que o primeiro! (comparei, não resisti) Já estou viciado na "Ciranda do Mundo" e na releitura de Edu e Chico.
Mauro, que tal uma matéria reunindo os tais jovens compositores do disco? A gente lê tanto que falta renovação, não seria uma oportunidade de darmos espaço a quem vem batalhando por reconhecimento? Na época dos festivais era mais fácil pra garotada. Viva Maria Rita, que não pode suprir a lacuna dos antigos festivais, mas faz sua parte!
Mauro, como já disseram aqui que tal uma matéria com "esses meninos", talentosos compositores... gente esse cd vicia!!! Abraços!
Pelo" carater oscilante do Repertorio "?
O Mauro o CD é bom ou não ?
Poxa se não for ... Tem Chico, Jorge Drexler, Moska , O Rappa...
Tem tudo pra ser . Quero ouvir !
Ainda Não ouvi ....
O CD vai bombar !
Até a Marisa Monte ( dizem a boca pequena ... ), atrasou o lançamento do Cd novo ( duplo ? ) para não bater de frente com o Segundo da Maria Rita . Será ?
O Primeiro vendeu uma enormidade...
SEGUNDO ou UM SEGUNDO ?!?!
Vale a pena saber se Maria Rita além de imitar a mãe que ela afirma nunca ter revisitado, agora também vai copiar os Veloso's ?!
Afinal, o segundo disco de BELÔ VELOSO -, de 1997, se chamou Um Segundo e tinha uma canção de Tavito, chamada Despedida.
Coincidência ou falta de informação a cantora, e, sua equipe pessoal e gravadora ?!?!
Seja como for... feiooooo ... tanto faz se for o segundo, terceiro ou quarto... é melhor a moça começar a rever suas coisas... e idéias (!).
Putz... que cometario nada a ver...
As duas sào ótimas !
Feiooooo... é o que vc disse!
Hoje é o nome do album da Gal e dos Paralamas e dai ?
É Vc que precisa rever suas idéias( ! ) !!!
O primeiro era uma gigantesca espectativa e foi fenomenal, vai ser difícil descolar das musicas que impregnaram os corações. O SEGUNDO não tem Tom Capone mas tem
Maria Rita. Cada disco será diferente,muitas coisas lindas Maria Rita trará para a Música Brasileira e Internacional e ela, como Elis, será uma Estrela inapelavelmente. O Disco não é igual ao MARIA RITA, talvez falte algo na banda (Da Lua?) mas é muito lindo.
Maravilhoso, como ela brinca com a voz...e ainda vamos ter o Da Lua nos shows. Vai ser um espetáculo!!
Acho que esse cd novo da MR deveria chamar-se Confirmação.
Confirmação de um inegável talento.
Realmente, Segundo é uma inovação em relação ao primeiro trabalho da cantora. A começar pela radical mudança na concepção dos arranjos, um sinal inegável de ousadia. Maria Rita gosta de Piano, Baixo e Bateria, pois assim reafirma suas raízes no Jazz, e isso foi escrito em alguns veículos da imprensa, na ocasião do lançamento do disco. Sinceramente, isso tudo me soa patético, e considero ela uma nulidade artística. Mas se a imprensa e os fãs baba-ovo insistem no contrário, fazer o quê? Ouçam a música que merecem, pra mim esta embromação embrulhada em conceitos mal formulados definitivamente não serve.
Valeu,
Pierre
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