El�trica, Daniela refaz em 'Bal� Mulato' seu saboroso e pop 'Feij�o com Arroz'

Resenha de disco
T�tulo: Bal� Mulato
Artista: Daniela Mercury
Gravadora: EMI
Cota��o: * * * *

Com a carreira em ascens�o no exterior, e j� consolidada em pa�ses da Europa como Portugal e Espanha, Daniela Mercury parte para a reconquista do territ�rio nacional. El�trica, a cantora retoma em seu d�cimo-primeiro CD solo, Bal� Mulato, a mistura pop baiana que caracteriza seu trabalho desde sua explos�o no in�cio dos anos 90. Depois de salutar disco totalmente dedicado ao bate-estaca dos DJs (Carnaval Eletr�nico, �pice de uma experi�ncia com os beats programados iniciada em 2000 no �lbum Sol da Liberdade) e de recente CD de MPB que tangenciava o universo do jazz (Cl�ssica), a cantora refaz seu saboroso feij�o com arroz em requintada produ��o dividida entre Ramiro Musotto, Al� Siqueira e a pr�pria Daniela.

Bal� Mulato sinaliza a retomada por Daniela de um ax� mais tradicional e b�sico, mas nem por isso totalmente org�nico. S� que, neste disco, a eletr�nica n�o � o elemento predominante, mas, sim, um ingrediente a mais no molho afro-pop-baiano da artista. O resultado � um disco delicioso, dos melhores da artista, e compar�vel ao cultuado Feij�o com Arroz (1996). Ambos trazem at� baladas de Chico C�sar. � Primeira vista foi sucesso na trilha da novela O Rei do Gado em 1996. Pensar em Voc� - recriada de forma intimista e sublime com piano e cordas arranjadas com maestria por Lincoln Olivetti - tem tudo para bisar esse �xito na trilha da rec�m-estreada Bel�ssima.

Daniela combina timbres, ritmos e romantismo num disco que n�o perde o pique em suas 14 faixas. Se os beats ficam acelerados em Levada Brasileira (eletrocapoeira turbinada com batida pop e a batucada t�pica do samba carioca) e nos sambas-reggaes Eu Queria e Bal� Popular (obra-prima do g�nero, urdida com berimbaus percutidos por Ramiro Musotto), o clima acalma na melodiosa Topo do Mundo, faixa eleita para as r�dios, e no xote-can��o Toneladas de Amor, de M�rcio Mello, compositor presente tamb�m em Feij�o com Arroz com o hit Nobre Vagabundo. O autor toca guitarra na faixa e recita, quase em compasso de rap, seu poema O Amor Santo.

Como compositora, Daniela continua irregular, mas acertou ao dosar sua produ��o autoral. Se soa insossa na et�rea can��o Quase sem Querer (quase um rhythm and blues), a int�rprete-autora convence em Quero Ver o Mundo Sambar (p�rola do CD Carnaval Eletr�nico recriada em formato mais ac�stico) e no frevo �gua do C�u. Ali�s, o que n�o falta em Bal� Mulato s�o petardos carnavalescos. Um deles, Olha o Gandhy A�, � ijex� que j� animou os trios eletr�nicos de Salvador em 2005. Outro � o velho Meu Pai Oxal�. Daniela turbinou para a folia baiana, com programa��es, o hit da dupla Toquinho & Vinicius - composto em 1973 para a trilha da novela O Bem-Amado. Da mesma forma que ousou recriar, com resultado estupendo, o cl�ssico Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, no ritmo do samba-de-roda marcado com palmas e incrementado com coro de cantadeiras.

Entre um reggae zen como Amor de Ningu�m (O Amor) e um tema pop cheio de guitarras quase roqueiras (Nem Tudo Funciona de Verdade), Daniela mostra que seu som sempre foi miscigenado. Faltava � acertar o tom, perdido em discos confusos como Sou de Qualquer Lugar (2001), mas reencontrado de forma primorosa neste Bal� Mulato de cor brasileira.